Ícone do site RND

O rap como porta-voz de povos oprimidos: Resistência, enfrentamento e luta ativa pela liberdade

Estados Unidos, 1984. Grandmaster Flash e Melle Mel lançam “Jesse“, em referência ao candidato à presidência Jesse Jackson, incorporando um teor progressista a respeito da política da época, o que representava a libertação dos jovens afro-americanos e latinos naquele contexto.

Brasil, 1993. Racionais MC’s lançam o disco Raio-X do Brasil. Com clássicos como “Fim de Semana no Parque” e “Homem na Estrada”, o disco conta com uma narrativa progressista que denunciava as mazelas sofridas pela população negra e periférica no Brasil.

https://www.youtube.com/watch?v=t3RrTMAXd1A

Dois exemplos que servem para nos mostrar que os anos 80, nos Estados Unidos, e os anos 90, em terras brasileiras, foram marcados pelo início do rap progressista, que encorajou a comunidade negra e periférica a uma luta pela liberdade e resistência frente ao racismo e diversas outras formas de opressão.

No período da escravidão, os povos negros sofreram um verdadeiro genocídio cultural, onde todas as manifestações artísticas de sua cultura foram expressamente proibidas, com exceção da música. E se a música não foi proibida, se deu ao fato da escravocracia não ter apreendido sua função social. O povo negro foi capaz de criar com sua música uma comunidade estética de resistência.

O spiritual* afro-americano criou uma linguagem de luta que era facilmente compreendida por escravos e escravas, e mal compreendida pelos senhores, e era uma comprovação de que ali, naquela expressão musical, existia consciência política autônoma. Os spirituals influenciaram diretamente a música associada a movimentos populares, e isso inclui o rap, de certa forma.

Quando estreitamos os laços entre arte e movimentos populares, o rap tem a função catalisadora no despertar da consciência social coletiva, e é usado (ou deveria ser) como plataforma para o grito de uma minoria oprimida. Quem faz rap possui um grande poder transformador nas mãos.

Quando uma minoria faz rap – negros, periféricos, latinos, indígenas, LGBTs, mulheres – a narrativa é muito mais rica tanto na carga cultural, quanto no contexto histórico. O ritmo foi feito por minorias, para a libertação de minorias. É imprescindível que o gênero carregue um caráter progressista a respeito de questões políticas. Que não seja subserviente ao capitalismo e a todas as outras formas de exploração.

É necessário que o rap reflita sobre a vida cotidiana de jovens das comunidades. Quem faz rap desta forma, respeita as raízes do gênero musical e a todos que possibilitaram que esse gênero um dia viesse a existir em nossas mãos: a comunidade afro-americana, latina e periférica.

*Spiritual era uma canção de trabalho inicialmente interpretada por escravos negros. Faziam uso de movimentos rítmicos do corpo e batiam palmas como acompanhamento da música.

Sair da versão mobile