Esse é um texto escrito por Victor Costa e contém opiniões pessoais, com comentários de Laísa Gabriela e veiculado pelo RND.
Já dizia Criolo: meninos mimados não podem reger a nação. E se a cena do rap nacional é um reflexo de nossa sociedade, o hip-hop tampouco pode ser regido por crianças que não aceitam ser contrariadas. De Raffa Moreira a Jé Santiago, a Pineapple StormTV coleciona tretas e discussões que causam um inevitável questionamento: a dupla de empreendedores ama o rap ou o dinheiro?
O lema dos jovens Paulo Alvarez e Lucas Malak, “Somos o Poder”, é realmente levado a sério. Após discussões com Raffa Moreira por questões financeiras, o rapper de Guarulhos teve o rosto censurado e a participação cortada no vídeo de “Poetas no Topo 2”. Esse foi o primeiro episódio polêmico do coletivo que, inclusive, gerou inspiração artística para Raffa e o fez criar as músicas “Paga O Que Cê Deve Pra Mim” e “Eles me Devem“, essa última foi lançada na véspera de natal.
A Pineapple se pronunciou sobre o ocorrido:
Recentemente Jé Santiago teve que “segurar o abacaxi”. O Perfil do rapper paulista foi excluído do YouTube repentinamente.
“Eu nem sabia que o vídeo tinha sido excluído, só quando ele foi falar comigo pessoalmente mesmo. Fui abordado na porta do rolê que eu tinha acabado de cantar e ele foi lá com o Diomedes Chinaski, que também ia cantar, dar um papo em mim. Disse que eu estava falando muita besteira na internet, que falei mal do Choice e da Pineapple e que tinha excluído meu vídeo porque tinha ficado puto”.
De acordo com o dono do “Flow Djavan“, não há qualquer tipo de contrato entre a empresa e os artistas, tudo é combinado pelo WhatsApp.
“A forma de trabalho deles é totalmente sem profissionalismo, não existe contrato nem nada do tipo. Foi tudo por WhatsApp, ele comprou minhas passagens e você fica dormindo na casa dele mesmo, ou no estúdio. Ele banca a alimentação e só. O Malak cuida mais da parte artística, pelo que eu percebi, e o Paulo cuida da parte executiva. Foi ele que pagou as passagens, alimentação, etc”.
Procurado por Victor Costa, Lucas Malak, que também é dono da Brainstorm Estúdio, não quis comentar sobre o assunto. Já Paulo Alvarez, afirmou que Jé Santiago teria insinuado que a empresa lhe devia dinheiro, o que gerou desentendimentos entre ambos.
“O canal é meu, não devo nada pra ele. Se quiser fazer gracinha, vai lá e regrava, mas não quero cuzão no meu canal”.
Não bastasse as situações descritas acima, o nome da produtora apareceu em mais um problema. Segundo Juyè, ela foi descartada do Poesia Acústica 4, sem receber nenhuma explicação e foi substituída por Azzy, que passa a fazer parte do projeto ao lado de MV Bill, Froid, Delacruz, Bob do Contra e Djonga.
A minha parte do poesia 4 já estava gravada, acredito que não tem problema que fazer um vídeo e mostrar para vcs como seria se eu estivesse ! Então vou gravar e postar aqui. Pelo menos posso dividir com vcs… Independente de qualquer coisa, tá ok. Esse tipo de coisa acontece…
— Juyè (@juyedocontra) 4 de fevereiro de 2018
Amores da minha vida que fazem os meus trabalhos terem reconhecimento: É difícil ver mulher sendo reconhecida, por mais q não tenho gostado da @AzzyOficixl estar me substituindo, apreciem e valorizem o trampo dela. Eu estou chateada por não estar, mas ela não tem nada a ver!
— Juyè (@juyedocontra) 4 de fevereiro de 2018
Alegaram que não existe compatibilidade entre nós e a questão de eu dar mais “moral” para a minha área de trabalho continua sendo o motivo para me afastarem ! Decidiram isso e não me falaram em nenhum momento. Recebi a notícia e fiquei tão surpresa quanto vocês…
— Juyè (@juyedocontra) 5 de fevereiro de 2018
Paulo fez uma postagem em seu facebook afirmando nada ter a ver com isso, já que Juyè era artista da Brainstorm:
No twitter, Malak também deu alguns esclarecimentos a cerca da situação:
Eu, Laísa Gabriela, me pergunto, o que a Pineapple faz pelo hip-hop, além de usar dessa cultura PRETA para ganhar dinheiro? Acham que fazer uma ação social é o suficiente? Esqueceram o que o rap pode proporcionar para quem não tem nada? Se vivem do rap a fundo, sabem bem que, de fato, rap salva vidas, pelo menos na minha época era assim.
Vocês não demonstraram respeito nem pela própria equipe, se acharam “poderosos” a ponto de “apagar” o trabalho de um artista por acusações sem provas e só “porque não devem nada a ninguém”. Onde está o profissionalismo? Cadê o respeito pelo profissional que estava ali filmando, por quem editou, pelo próprio artista? Cadê? É assim que vocês querem mostrar diferencial dentre os outros que destroem nossa cultura?
Apagaram o rosto do Raffa Moreira por birra, infantilidade! É errado ele cobrar o que vocês deviam? Não. Ele tem a maneira dele de fazer as coisas, de falar do racismo escroto que nos aflige, mas o que ele fez serviu para que vocês fossem expostos. Talvez a minha opinião não tenha valia, mas preciso dizer que, para mim, vocês são só mais um no meio dessa cena escrota e desrespeitosa. Entraram para as estatísticas.
Ah, ainda sobre Juyè, o que fizeram com ela foi nojento! Até o outro dia ela defendia vocês e chegou a se desentender com Raffa Moreira por isso, bem dizia minha avó: o tempo revela tudo. Ela aprendeu da pior forma que não dá pra confiar em sujeitos como vocês, que não tiveram nem culhão para dar a real sobre o desligamento dela do projeto. Frouxos!
Artistas, aqui vai um recado: não aceitem fazer nada sem contrato na frente, façam sempre uma contra-proposta, não aceitem migalhas, não aceitem camisa como pagamento, não aceitem somente por “divulgação”, exija o pagamento. Se coloquem no lugar de vocês e mostrem o valor que vocês têm, não se deixem enganar pela lábia de ninguém. Espero que com todo esse ocorrido vocês peguem a visão e saibam separar o joio do trigo.
Não são apenas as produtoras que não respeitam os artistas, mas também, artistas que não respeitam os profissionais que estão ao lado deles (passei por isso recentemente, inclusive, fui desrespeitada, isso é texto para outro dia). No fim das contas, tudo dá em pizza, parece até a política do nosso país, infelizmente. Esses “profissionais” do rap não demonstram interesse em dialogar. O que vemos é ameaça, desrespeito e muita gente falando grosso (isso tem de sobra). Sigamos, fazendo nossa parte pela melhoria do coletivo e dando sentido ao que é hip-hop com ações, colocando a mão na massa.