Após quase dois meses da perda de Cydrak Nascimento, o RAPBA está de luto novamente, dessa vez, por Silvonei Dias, ou simplesmente OBZO, membro do Coletivo Roupa Suja, menino da B2 que sempre sonhou alto, deixando sua marca por diversos muros da cidade e declamando suas poesias marcantes nos ônibus de Salvador. Uma delas, pude ouvir na última quarta-feira (5), em São Lázaro, na UFBA, quando ele começou assim: “Desgraçaaaaaaaa!”, pondo pra fora toda a sua ira contra a violência policial, sua revolta pelo sofrimento do povo preto e também, pelas injustiças vivenciadas.
OBZO era um pichador consagrado nas ruas de Salvador, grande apoiador do movimento Hip Hop, sempre presente nas batalhas de rima e eventos de rua. Com muita tristeza, Anderson 16 Beats, um dos seus amigos, me disse: “Suas artes, seus bombs ficaram eternizados em toda nossa cidade. Suas poesias recitadas ficarão marcadas em nossas mentes. Seu jeito doce e simples ficará em nosso coração. Ele era poeta de rua também, estava dia a dia conosco na rua recitando nos ônibus. Lembro que ele disse que queria tirar um dia para recitar comigo, mas houve imprevistos… Eu queria ter aquela honra de recitar com ele, eu queria“.
Well Santiago, fotógrafo e também apoiador da cena soteropolitana, trouxe alguns questionamentos em seu perfil pessoal: “Até quando viveremos em uma sociedade que reconhece a arte pelo o que agrada visualmente, esteticamente? Dentro do escopo da arte, existe os seus gêneros e subgêneros. […] OBZO era um jovem de grande valor artístico, poético e um excelente comunicador. A pichação incomoda porque é a comunicação mais viva entre a sociedade, a comunicação de repudio, destaque na inconformação sempre a favor do povo periférico“.
Débora Evequer, Áurea Maria, Belle Araújo, Lucas Sá, Sista Katia, Mara Mukami, Samuca Koala, Wendel Rocha e tantos outros lamentaram a perda de OBZO. Em ação conjunta, amigas e amigos decidiram arrecadar doações para ajudar a família a custear a realização do funeral dele.
No sábado, às 17h, na pista de Skate dos Barris, lá estavam todos que poderiam contribuir de alguma forma nesse doloroso processo, que é o sepultamento. Estive lá, não queria deixar Áurea sozinha, o clima era de muita tristeza no rosto de todos. Não tinha como esconder, era perceptível no olhar das pessoas presentes o quão querido era OBZO, a grandeza dele é imensurável.
Jovem, preto, periférico, risonho, aventureiro, pichador, poeta nato e tantas outras qualidades que me faltariam linhas para descrever, esse era OBZO, segundo seus amigos. Não convivi tanto tempo com ele, o conheci na UFBA, na mesma semana do seu falecimento, mas me senti na obrigação de falar sobre ele e mostrar o seu melhor lado, mostrar a sua família que ele era um artista e não um marginal, como disseram.
OBZO está eternizado nos muros de Salvador e também, no coração daqueles que o amam, ele jamais será esquecido. Ele se foi fazendo o que amava, sua arte permanece viva. Sua despedida será nesta terça-feira (11), às 10h, no Cemitério Municipal de Pirajá, em Salvador. OBZO VIVE!