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O íntimo de a “A Bruta, a Braba, a Forte”

N.I.N.A tem 22 anos, é MC há um ano, já atuou como DJ e é moradora do Leme atualmente, no Rio de Janeiro.

Em uma conversa mais íntima com a N.I.N.A, sobre a sua trajetória no mundo musical, no qual vem ganhando destaque, não somente por suas participações, como também podendo mostrar todo seu potencial como MC.

Ela comenta que um dos momentos mais marcantes da sua trajetória foi quando pode descobrir que o seu vício (em escrever) poderia se tornar arte, através da música. Conta também que ao pisar pela primeira vez no estúdio para seu primeiro som foi um misto de ansiedade, felicidade e um “cadinho” de cagaço, hahahaha.

N.I.NA vem cumprindo com o seu papel como MC sendo um mensageirx, acredita que isso é levar informação e cultura a todas as pessoas de diversas formas:

“É uma responsabilidade muito grande. Qualquer palavra ou atitude errada pode influenciar uma gama de pessoas de forma negativa, e não é como se todos que te ouvem vão fazer o que você diz, mas sim sobre de qual forma aquilo toca o coração das pessoas…” — N.I.NA

Comenta N.I.N.A quando a questiono sobre o significado de ser MC

Nesta apresentação de N.I.N.A, podemos perceber que a artista desperta o nosso lado curioso de sabermos também um pouco sobre o oposto de ser “A Bruta, a Braba, a Forte“, estar além de seu alter ego, me mostrou que N.I.N.A é facilmente uma boa aposta do ano e assim para os próximos.

Convido vocês, a conhecermos N.I.N.A:

Conforme citado na matéria da Rolling Stones, o seu processo de criação e identidade dentro da estética foi difícil e doloroso. O seu reencontro com a Nina, acredito que tenha sido satisfatório e um misto de mil sentimentos, conseguiria descrever um pouco eles?

“O maior sentimento no meio desse reencontro foi o prazer. Foi extremamente prazeroso me reencontrar, me identificar, me sentir bem,  confortável e principalmente olhar pra mim mesma com mais carinho. Teve uma insegurança absurda também, porque foi em meio a uma série de paradas que aconteciam na minha vida e de certa forma esse despertar causou uma mudança imensa nas minhas relações interpessoais, mas acho que no fim o prazer e a autoconfiança foram os protagonistas que me guiam até hoje.” — N.I.NA

Lidar com a notoriedade do público, reconhecimento de mídias e demais artistas é um bom indicativo de estar no caminho certo, em alguns momentos acaba sendo conturbado, mas a gratificação pelo o que eu vejo nos seus comentários nas redes sociais, é lindo de ver. Se soubesse que iria acontecer esse trajeto, o que diria pra N.I.N.A de 3 anos atrás?

“Cara… Eu diria pra ela não se desesperar com a enxurrada de informações que estão chegando nela. Que tudo isso que ela tá conhecendo vai abrir inúmeras portas. Que ela não precisa se encaixar nesse meio publicitário branco classe média-alta pra ser aceita mas que também não é bom se deixar levar por todo mundo que diz ser diferente, porque no fim geral é farinha do mesmo saco. Que sim, aquele lugar é direito dela, mas que ela não precisa sofrer e nem se moldar pra estar ali e que se ela tá vendo de perto que as coisas não são como ela sempre sonhou, não faz mal ela virar as costas… Acho que diria também que ela é foda e pra ela repensar duas vezes na tattoo do braço esquerdo, porque vai ficar com uns traços tortos…” — N.I.NA

(Eu também diria pro meu eu de 14 anos não tatuar uma estrela insignificante no braço hahahaha)

foto por: Wander Scheeffër

Acho meio saturado abordarmos sobre machismo em pleno 2020 com artistas mulheres. Por mais que o GRIME não seja RAP, grande parte do público que consome o estilo no BR ainda pertence ao trap, rap, sendo que tais quais ainda mantém alguns posicionamentos e pensamentos retrógrados. Eu penso que quanto mais normalizamos a identidade feminina nesses ambientes, menos se falará somente sobre o machismo… Como caminhamos a passos pequenos para essa “desconstrução”, como mulher e preta você sente ou já sofreu algum tipo de discriminação exercendo seu papel (sendo DJ ou MC)?

“Cara… Então… É foda falar sabe? Eu acho que a discriminação vem muito em forma de vagabundo me subestimar achando que só porquê eu sou mulher não tenho cacife pra peitar isso tudo. Quando DJ, eu já vi neguinho com menos habilidade do que eu querendo me ensinar a fazer o básico em um equipamento… Agora como MC eu vejo gente fingindo que eu não existo ou que meu trampo não vale de nada e eu nem sei porquê… A real é que eu sempre disse que pra fazer os bagulho sendo mulher tu tem que ser duas vezes mais braba… Agora pra fazer o bagulho sendo mulher, preta, favelada e talentosa tu tem que ser 1000 anos à frente em questão de confiança. ‘PPRT’… O machismo se mostra de várias formas tá ligado? Desde a exclusão da mulher em ambientes até comentários ácidos (que ninguém pede) sobre trabalhos de mulheres. Mas é isso, nós somos figuras públicas, tá ligado? E isso acaba nos tornando vulneráveis a todo tipo de preconceito.” — N.I.NA

A sua participação em “40º.40” do SD9, promessa de ft com Azzy no próximo álbum da mesma em “Antes do Fim do Mundo”, faz com que os ouvintes fiquem ansiosos pelos seus trabalhos. Mesmo que sua carreira seja recente e venha caminhando conforme tem que ser, podemos esperar algum álbum ou ep de N.I.N.A para os próximos meses?

“Po… vocês podem aguardar bastante barulho e um EP aí nos próximos meses. Tem muita parada rolando ainda pela frente, fazer parte desses trabalhos (tanto do SD9, quanto da Azzy) é gratificante pra caralho – (foi mal se não pode xingar) -, ver meu trabalho tomando essas proporções, ver a galera depositando essas expectativas e desejos em cima da N.I.N.A artista só mostra que o que eu tô fazendo é de fato o certo, tá ligado? Então a galera pode aguardar aí mais trampo de qualidade porque a mãe tá preparada pra servir o banquete haha.” — N.I.NA

Estar e viver na favela é uma luta diária no qual só quem vive sabe. Sendo sua fonte de inspiração e sua realidade, quais são seus sonhos e objetivos? Tem gente que quer trazer melhoria para pessoas a sua volta… outras é de ser referência pras crianças etc. E pra N.I.N.A, mesmo que o ambiente e algumas situações sejam desmotivadoras, o que te faz sonhar e crer no poder da música?

“O que me faz sonhar e crer no poder da música é lembrar da Nina de 11 anos ouvindo Racionais e chorando, tá ligado? É lembrar da Nina com 20 ouvindo o Regina do Nill e entendendo as frustrações e questões do irmão mais velho dela… Meu sonho é fazer a galera se identificar e sentir a música como eu senti e sinto até hoje. A música é parte da minha vida, me acompanhou em vários momentos pesados, em várias fases da minha vida eu só tive a música pra me amparar… Então eu quero ser pra galera da minha área, que vem de lugares como os que eu venho, o que vários artistas, cantores e mc’s foram pra mim. Além disso meu sonho é dar condição pra minha família, formar um abrigo pra pessoas em situação de rua e animais abandonados… Nós quando nasce e cresce com pouco, vendo tanta gente carente de amor e afeto, só consegue pensar em um dia poder ajudar essa gente… Eu tô fazendo música pra mudar meu mundo e ajudar a mudar o mundo que eu vivo também.”


Uma enorme satisfação à essa troca de ideia e poder conhecer um pouco mais sobre o trabalho de uma artista que sei que ainda ouviremos falar muito sobre. Acompanhe a artista em suas redes sociais.

Confira o trabalho de N.I.N.A:

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