Depois do impacto de “Favela Vive“, o ADL voltou sem perdão com o lançamento do single “Terror Nenhum” no último dia 17. Num trap bem sujo, produção do Soffiatti, Lord e Dk contaram a história de como tudo começou a ser além da loucura lá em Teresópolis, região serrana do Rio de Janeiro.
Logo da primeira vez que ouvi o som percebi que a parte do Dk, a primeira, não só vem com a mensagem de praxe do ADL, mas narra uma série de acontecimentos. “Essa letra foi o Dk que começou, realmente tudo que tá ali foram passagens específicas da nossa vida, são retratos do que a gente viveu, e o retrato de outras pessoas é parecido. Essa foi a primeira brisa dele, de ter lembrado do nosso primeiro show, a situação que a gente passou naquele dia, de ter realmente apanhado o X9. E eu já falei que era isso, que íamos contar essa história”, nas palavras do Lord.
Não só a história de como tudo começou, mas de como tudo mudou por causa do rap, deixando transparecer uma nova opção para aquele que se identifica cumprir seu propósito. O Dk me explicou: “a música lançada já é a vitória, porque agora a gente não é mais traficante e é músico. A proposta da música é essa, mostrar a reviravolta que deu na nossa vida e que quem fez isso foi o rap. O rap ta vivo, o rap de mensagem, dando sempre uma proposta pro favelado, dando uma outra opção, a opção da arte”.
Essa importância de valorizar, e entender a dimensão do poder do rap de mensagem, não tem tamanho em um contexto que vem soltando muito confete pra uma pá de futilidades. O Lord tá ligado, e não dispensa a oportunidade: “O pobre pede, trabalha, tem predisposição a se fuder na vida, a se endividar, a partir pro crime. Então porra se a gente tem a opção de bater na porta, de incomodar, de ganhar dinheiro com arte, onde a gente pode falar o que a maioria das pessoas a nossa volta passam, então é isso, é o rap, o hip hop, a dança, a arte, onde a gente pode ser visto”.
Estão sendo vistos, ainda bem. Em 10 anos de ADL eles criaram uma cena que não existia em Teresópolis, chegaram no Rio, em São Paulo e no Brasil, e acabaram sendo espelho pra uma molecada talentosa que anda surgindo por lá. Fizeram mais, criaram a roda cultural do alto, que faz ações sociais pras crianças carentes, festa de natal, páscoa, dias das crianças, arrecadação de agasalho, de alimento, participação de artistas. Essa é a diferença do Mc papudo de ego que manda o sistema se foder e esses manos que fazem ele se foder.
Não só lá em Teresópolis onde em 10 anos muita coisa mudou, mas dentro de qualquer festa de rap na madrugada onde neguinho vai estar pulando porque é muito bom de ouvir. O Dk entendeu isso: “na noite eu percebi que o trap deixa a galera pra cima, se a galera tá pra cima eu também quero ganhar esse público, conscientizar eles, quero que chegue quatro horas da manhã e eles estejam ouvindo um rap de mensagem e pulando, batendo cabeça e ouvindo uma parada com conteúdo, porque a informação vai estar ali na mente dele. A indústria tá aí, cabe a cada mc saber até onde ele pode se render, a gente faz nosso som assim a dez anos, mexemos com realidade, com vida e pretendemos ficar assim por mais dez mil anos e é isso, foda-se a indústria.”
E vão continuar por mais 10 mil anos. Só esse ano tem CD, tem trilha sonora de filme, tem lançamento de um remix de “Hail Mary” do Tupac com participação do Djonga e do Leal, então imagina? Por enquanto a gente fica bem ciente do poder do Hip Hop e da história foda destes caras:
Trecho da música:
Crime era amante, o rep eu amava
Sonhava com o rep e vivia de crime
Vendendo e rimando até de madrugada
Mochila da Redley e camisa de time