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No novo álbum ‘Oceano’, Nego E te leva a um mergulho sonoro

Pulando da costa da praia nas águas turbulentas; admirando o calmo oceano beijar a areia da praia: essas são fases que formam a metáfora do novo álbum de Nego E, “Oceano“. E dentro dessas frases o músico conseguiu interagir os seus protestos anti racismo liricamente expressos, com músicas dançantes (que não deixam de ser protestos), indo de diferentes ritmos, um pouco de dance, jazz, boom bap e de tudo que pode fazer seu corpo mexer com a onda sonora e seu cérebro afundar em suas letras.

Do Morro Pro Asfalto, da Quebrada pro Centro” (DMPADQPC), música com Rincon Sapiência, começa com a batida no peito e o tapa na cara, do orgulho negro representando por uma fala da Jaqueline, do BBB11, falando ‘Sou preta, quer afrontar?‘, a letra fala contra ‘ideologias KKK‘ de tentar diminuir o discurso anti racista falando que é ‘mimimi’, misturando o discurso entre o homem do campo e o homem da cidade. Essa mistura também acontece em “Homem ao mar“, no refrão Hanifah pergunta ‘Homem ao mar, quem vai me salvar?‘ e a resposta do E é contar seus fracassos e sucessos, sua luta, junto a entidades religiosas, caminhando em sua infância e trajetória, nesse momento acontece a mistura, o seu eu interior se aconselha e nos aconselha, com exemplos de como sobreviver nesse turbilhão de desafios.

Em “Há de Trazer“, Nego E mostra sua diversidade e evolui essa mistura, conversa com sua parte mais pura, sua criança interior, e para fazer isso, eleva a música a forma mais serena e tranquila, como se fosse levado por uma mão de uma criança, a voz se põe sobre um violão muito calmo e uma gaita.

As águas cercaram, você não vê mais a praia e seus braços estão cansados, não aguentam mais nadar, o que resta fazer? Apagar a luz e se despedir. Em a “Âncora” o cantor se despede de um amor que se esvai e se foi, um luto de um coração partido em duas partes e onde ambos sofrem, porém Nego E canta a saudade desse amor, como uma rainha sem o rei, que foi levado pelas águas.

Capa

Em “Lua Negra” (que ganhou clipe recentemente) a água bate na cara. Os fatos relatados são mais que atuais e saem da metáfora para a pura resistência. Falando sobre o #BlackLiveMatters e sobre o assassinato dos cinco jovens negros por 111 tiros, ele fala com o ódio que essas ações despertam, a fuga disso, fala da perseguição, do medo eminente, de forma desesperada, do orgulho de pertencer a essa resistência, tudo de forma liricamente bem feita, em cima de um ritmo estupendo, quando vem a mensagem principal ‘vidas negras importam‘ sobre a cuíca e o tambor forte e ritmado, de forma a lembrar as batidas africanas. Um adendo a essa música, é que eu ao contrário do tratado na maioria do álbum, não sou negro e com isso não sou perseguido apenas por minha cor, porém quando ele diz ‘morre mais um Silva e ninguém salva’, eu me sinto representado, não totalmente, tenho privilégios que não me orgulho e não gostaria de ter, mas ser Silva, ter que sobreviver em uma selva, sem ninguém para nos salvar, isso ainda é um orgulho para mim, faz parte da minha rotina, e buscar diminuir essa diferença da cor, essa perseguição, é uma das lutas e o que é feito por essa analise é exaltar a voz de Nego E e suas canções, que dizem muito para este movimento.

A última música que gostaria de destacar para não alongar tanto meu texto e não acabar com todas as incríveis surpresas, é a “Valsalva“, cantando com um trap muito pesado do GROU, Nego E, Drik Barbosa e Jé Santiago descrevem o medo eminente da rua e do que é ser parado de madrugada em uma escolta policial para uma pessoa negra, contando experiências pessoais e lógicas comprovadas por estatísticas que levam esse medo a sempre aumentar.

Além das participações já mencionadas o disco conta com as participações de Filiph Neo, Nando Viana, RT Mallone, Sadiki, Helibrown e DCazz, e a produção, quem assinou a maioria do disco foram GROU e The Munir, quem participou ativamente do processo foram Saile, Robson Heloyn, Egydiio, LR Beats, Filipho Neo, Nicolas Carneiro, DJ Faul, Pé Beat e DJ Nycak.

Com fotografias do próprio oceano feitas por Santiago Carlucci, e design produzido por Kelen Lima, as ondas na capa representam de forma imagética toda essa estrutura musical do disco. Aperte o play e mergulhe nesse oceano, reflita e encontre também algo para te inspirar à beira-mar:

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  1. Homem ao Mar (Part. Hanifah)
  2. Senhor Ninguém
  3. Valsava (Part. Jé Santiago e Drik Barbosa)
  4. Melhor de Mim
  5. Lua Negra
  6. Metamorfose de Narciso
  7. Âncora
  8. Levar Pra Vila (Part. DCazz e Filiph Neo)
  9. Labirinto (Part. RT Mallone, Sadiki e Helibrown)
  10. Insônias
  11. Há de Trazer
  12. Melaço (Part. DCazz)
  13. DMPADQPC (Part. Rincon Sapiência)
  14. Cais (Part. Nando Vianna)

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