Iae pessoal, como é que vocês estão?
Por aqui ta tudo uma loucura, várias coisas acontecendo, vários projetos se desenvolvendo, ta corrido, mas ta maravilhoso.
Infelizmente o mês de Outubro foi um tanto quanto conturbado e por isso não tivemos matéria na coluna, porém Novembro começou a todo vapor, mês da Consciência Negra e nada mais justo que começar o mês com conteúdo novo por aqui e principalmente evidenciando o trabalho de pessoas negras, assim como nosso entrevistado da vez.
Esse mês, além dessa matéria, a coluna Fala Memo Produção também fará um especial contando sobre a vida e os projetos de outros produtores ou até mesmo de eventos relacionados a cultura negra.
Tô organizando as coisas pra poder me dedicar mais nesse projeto que eu amo, não só por poder escrever, mas por poder conhecer melhor uma galera que eu admiro.
Como estou em débito com vocês por falta da matéria em Outubro, Novembro o que não vai faltar é conteúdo, ok.
Pra começar Novembro daquele jeito eu troquei ideia com um cara que meu Deus rs a cara de bravo inibe, mas quando abre a boca é sucesso.
A história desse cara é parecida com muitas das pessoas que eu pude entrevistar, família preta, simples, batalhadora e que sempre teve a música enraizada no corpo. Aquelas histórias que a gente se apaixona e que sempre tira uma lição, pelo menos comigo é assim.
Das brincadeiras de criança a viver do Rap muita coisa aconteceu e ainda acontece. Buscando sempre ajudar a família e tendo os amigos como parte dela também, esse cara se mantém firme e forte em seus objetivos e nem o céu é o limite.
Trazendo referências da infância, aquelas que os tios mostravam artistas e músicas que hoje serviriam de inspiração, esse cara de 27 anos vem representando e fazendo história pela Zona Norte de Sp.
Ele é um dos criadores da famosa Batalha do Tucuruvi, que inclusive retorna suas atividades no próximo dia 17/11 no Bar do Telão (em frente ao metrô Tucuruvi) a partir das 22h00. Ele é integrante do grupo Quarta Dimensão (que conta com os artistas Pardall e Gnomo) e também está iniciando uma carreira paralela aos projetos em coletivo como artista solo.
Força, resistência, vontade e muita música, sem mais delongas, deixo que ele mesmo se apresente, com vocês Lucas Grone:
FALA MEMO PRODUÇÃO – Como e por que começou a cantar Rap ?
Desde que me considero gente minha mãe já ouvia Rap, eu ouvia e imitava mesmo sem saber falar inglês muito menos entender o que diziam as músicas. Meu pai era Dj então graças a Deus sempre ouvi boa música, não só Rap mas de tudo um pouco, família grande e preta tem que ter música relacionada de alguma forma né, quem não canta toca, quem não toca dança e quem não dança segura a criança kkkkkk
Então isso me ajudou muito na parte harmônica da coisa pois sempre estive no meio da música, meus tios tinham um grupo de samba, outro louco por discos, então daí veio minha inspiração pra fazer parte de alguma forma daquele ritmo que eu cresci ouvindo e quando passei a entender o que eles falavam, vi que era a realidade que nos cercava… E pensei… É isso que eu vou fazer !!
FALA MEMO PRODUÇÃO – Quais suas principais inspirações?
Me inspiro muito nos meus amigos, meus familiares, me inspiro muito na corrida deles, não só nos que cantam que não são poucos, mas em todos que saem de casa todo dia pra ganhar a vida!
FALA MEMO PRODUÇÃO – O que é a Batalha do Tucuruvi? Como ela nasceu?
A Batalha Tucuruvi nada mais é do que uma intervenção, liberdade de expressão, onde 8 ou mais Mc’s batem de frente no palco pra ver quem é o melhor, seja na batalha de sangue “gastação”, de conhecimento ou mesmo temática.
Esse projeto surgiu de uma brincadeira entre amigos, eu Diego (Pardall) e Gabriel (Gnomo) tivemos a ideia depois de levarmos minha caixa de som para um rolezinho que rolava ali atrás do Shopping Center Norte. Eu trabalhava com caixas amplificadas com bateria interna que na época era novidade no mercado aqui no Brasil, e quando chegamos lá foi louco demais, com 2 mic’s sem fio e uns instrumentais fizemos a alegria de geral e foi tão dahora que resolvemos fazer outra vez, mas nessa noite não rolou por conta de uma briga que aconteceu no local antes mesmo de chegarmos lá, então chamamos todos que frequentavam o Center Norte para virem para o escadão do metrô Tucuruvi, e assim construímos nosso espaço, consolidamos o projeto e estamos ai na ativa desde então. Hoje a Batalha do Tucuruvi acontece no Bar do Telão que fica em frente a saída do metrô Tucuruvi, dia 17/11 estamos voltando as atividades com um novo formato (das 22h00 ás 4h30 – R$ 2,00) mas com a mesma disposição e paixão de sempre, estão todos convidados.
FALA MEMO PRODUÇÃO – O que é o Quarta Dimensão? Quais os planos futuros?
O Quarta é uma realização pra nós né Pardall, Gnomo e Grone… tudo começou com o Pardall e a sua vontade de fazer a diferença no Rap, deixar sua mensagem para gerações futuras, assim ele me chamou por volta de uns 6 anos atrás e disse “Eu tenho um plano e você faz parte dele” e antes mesmo da batalha nascer estávamos bolando um plano que envolveu mais 2 pessoas, Alan (Stanley) e o Gabriel (Gnomo), essa então foi a primeira formação do grupo. Hoje o Quarta Dimensão é formado apenas por nós 3, Grone, Gnomo e Pardall onde trazemos um diferencial nos nossos sons pois usamos todas as armas que a música nos propõe.
Num futuro breve estaremos lançando o CD Várias Fitas na Mente que contará com 8 faixas sendo pelo menos 6 inéditas.
FALA MEMO PRODUÇÃO – Para você como está o cenário do Rap Nacional atual? O que falta? Quais os excessos?
Pra mim o cenário está meio bagunçado porém bem mais reconhecido, creio que nunca na história o Rap gerou tanta repercussão, nunca atingiu tantas áreas e classes sociais.
Quando eu falo em bagunça, me refiro a uma pá de gente querendo se infiltrar no rap sem nem mesmo conhecer a sua origem ou de onde veio, como começou e o seu propósito. Mas isso é por conta do reconhecimento do Rap Nacional que só tem crescido a cada dia que se passa. As coisas estão diferentes atualmente, as coisas estão melhorando na questão da união apesar de ainda existir a velha rixa entre uns e outros Mc’s que para subir usam outros de escada.
Pra mim é só isso que falta na atualidade do rap nacional, mais união, seriedade porque o Rap não é brincadeira e nunca foi, hoje em dia é muito mais fácil pra qualquer pessoa que pensa em fazer um som conseguir gravar seu cd e divulgar na net sendo ele bom ou não, acho que respondi o excessos também rs, muito mimimi… creio que se parassem de focar na carreira do próximo e se empenhar na própria renderia muito mais !
FALA MEMO PRODUÇÃO – Quais os planos para o futuro? O que podemos esperar do Lucas Grone para os próximos meses?
Poh estou trabalhando no meu primeiro CD solo, quero fazer algo bem simples e objetivo passando exatamente quem é o Grone, tipo uma biografia mesmo ! Estou tendo o auxílio dos parceiros do Rancho que estão me incentivando muito nesse trabalho, assim como do meu brother Tadeu Msour (responsável pelo selo Rancho Mont Gomer ao lado de Eloy Polêmico, Sérgio Estranho e DJ Tadela) que também lançou seu cd solo agora dia 16 de Outubro chamado Arcano Pessoal no qual eu tive a honra de participar de um pedacinho na faixa 8 que se chama Caminhada. Sou muito grato por isso, e também conto com a força dos demais rancheiros. Vocês podem esperar muita música boa vindo aí!
FALA MEMO PRODUÇÃO – Como você administra vida pessoal,carreira solo, grupo e batalha ?
Graças a Jáh eu tenho irmãos que a vida nos dá que me fortalecem de mais nessa caminhada, a equipe que era só nos 3 agora tem mais de 12 membros que hoje são cruciais para o desempenho dela, assim ficou mais fácil de administrar o Quarta e de também projetar meu trabalho solo que também está em andamento !
FALA MEMO PRODUÇÃO – Pra encerrar, afinal quem é o Lucas Grone ?
Sou eu pooh tá tirando ? Kkkkk
Não sei bem como me descrever né sou suspeito pra falar de mim mesmo, mas o Lucas Grone é um um cara esforçado, determinado, meio preguiçoso, cheio de sonhos, vontades e aspirações. Cresceu envolvido com a música e desde sempre teve certeza que era essa a sua forma de fazer a diferença, de expor seus sentimentos e vontades, de fazer história. O Grone é alguém que dá duro pra chegar onde deseja, que tem os amigos e a família como base, e que tem o Hip Hop como arma para expor sua realidade. Alguém um tanto quanto misterioso, enigmático, com a cabeça a mil, mas sempre buscando evoluir, crescer e surpreender.
Posso dizer que eu sou um cara legal e o resto eu deixo pra você falar aí o que acha da minha pessoa kkk
É, mais uma daquelas entrevistas um tanto quanto gostosas de realizar, um cara cheio de ideias, de sonhos e principalmente de vontade. Um mix de sentimentos e desejos, e a música sempre presente como motivação.
Um jovem negro, que poderia ser mais um número nas estatísticas de morte no Brasil mas que está usando a música como ferramenta de transformação, alguém que está contrariando as estatísticas, está marcando seu nome não só no Rap mas no cenário cultural de São Paulo e principalmente da Zona Norte.
O Grone é mais uma das tantas pessoas maravilhosas que já passaram por aqui (e das que ainda vão passar) que me fazem ter gás para continuar escrevendo sobre eles, sobre suas histórias, suas motivações, fazendo com que o Rap continue crescendo e chegando cada vez mais longe.
Fora a carreira solo e o grupo, o projeto Batalha do Tucuruvi é um marco na história cultural do bairro, um projeto que mostrou não só para quem mora na região mas pessoas dos mais variados locais que é possível alcançar seus sonhos, abrir portas, começar a construir um futuro que sempre foi sonho e hoje é e pode ser real.
É um prazer imenso para mim como jornalista, produtora e principalmente mulher negra começar o mês de Novembro, mês da Consciência Negra, onde muitos se esquecem que ser negro não se resume a 1 dia, que pessoas como nós, negros, estão ocupando mais e mais espaços, estão chegando onde todos duvidaram que um dia chegaríamos. Estamos fazendo história, somos história, e diante aos próximos anos que estamos prestes a vivenciar, ser quem somos e fazer o que fazemos é sinônimo de resistência, e nós vamos resistir, vamos continuar usando nossos dons, nossas paixões para mudar o mundo, talvez não todo ele, mas pelo menos o mundo ao nosso redor, o mundo das pessoas que amamos, das pessoas que admiramos.
Que essa seja mais uma matéria que você leitor que me acompanha desde a criação desse projeto, possa tirar grandes lições, assim como ter a certeza de que para que as coisas aconteçam, nós só precisamos ter calma, foco, fé, amigos e muita disposição.
A próxima matéria sai semana que vem, um pouco diferente do que vocês estão acostumados mais com tanta paixão quanto essa. A próxima entrevista (sai na última semana de Novembro) é com um cara super gente boa, jovem negro, de quebrada, sonhador, batalhador, Mc, artista do selo Rancho Mont Gomer e também produtor da Batalha do Tucuruvi, Diego Kairo, fiquem de olho.