Na última sexta-feira (30), o rapper carioca MV Bill lançou o 12° álbum de sua carreira intitulado “Voando baixo“. O disco traz doze faixas inéditas que transitam por crônicas sobre indignação coletiva, injustiça social, inconsciências e relações líquidas.
Com a intenção de fazer as pessoas terem uma profunda reflexão política, o artista ‘cria’ da emblemática comunidade do Rio de Janeiro “Cidade de Deus” aborda temas necessários para o atual momento do Brasil. Ele explica:
“Os pretos sempre sofreram racismo, a polícia sempre foi violenta, e a negligência com a periferia sempre existiu. No entanto, os últimos tempos têm sido estranhos e ruins demais, mesmo antes da pandemia, que só fez acentuar as desigualdades, a miséria e o colapso econômico, social e sanitário.”
Segundo Bill, o conceito do trabalho é passar o caos que acontece nas comunidades, isso fica muito evidente quando vemos a capa, desenvolvida pela Pomo Estúdio. Nela aparece o rapper apontando para um avião espalhando fogo e destruição nas cidades, dando a entender que ele tenta alertar para a população os estragos que estão fazendo com o nosso país.
O álbum já está disponível em todas plataformas musicais e também em seu YouTube. Trata-se de uma produção executiva e fonográfica da MV Bill Produções Artísticas Ltda; distribuição da ONErpm; produção musical, mixagem e masterização do DJ Caique, (exceto a faixa 5 por Tibery);
Após todos seus álbuns contarem com a participação de sua irmã Kamila CDD, era inevitável que ela também estaria presente nessa obra. O projeto conta com sete artistas diferentes, e o tio Bill nos explicou um pouco de como funcionou essa seleção.
“Eu pensei muito nas possibilidades de chamar pessoas e amigos que estão no hype para fazer parte, mas esse disco é tão específico para esse momento que eu quis escolher feats que tivessem a ver comigo, com o disco e com o momento. Então o primeiro nome foi de minha irmã Kamila CDD que está comigo em todos os álbuns, o segundo foi o ADL que eu gosto muito, chamei a Stefanie de Santo André que sou muito fã, o Bob do Contra que é uma das vozes mais doces que tem no Poesia Acústica. Tem a participação do Marrom que é o ex-vocalista do RZO, é um cara que não ta na mídia mas sempre achei a voz dele incrível, o Nocivo Shomon que é uma geração abaixa da minha que eu respeito muito e o Filiph Neo que tem uma fonética norte-americana muito boa que deu um brilho sensacional para a música.”
Com a ideia de fazer o ouvinte viajar nas músicas, é um álbum com uma estrutura formada, começo, meio e fim. MV Bill é um rapper muito importante que atravessou gerações sendo inspiração para muitos músicos e também pessoas fora do rap. Porém ele ainda segue suas essências de trabalhar com o rap puro, mantendo seu estilo ainda nos dias atuais.
FAIXA A FAIXA “VOANDO BAIXO”, POR MV BILL
1. Esgrima
“Esporte que simboliza a luta, o espírito do disco. A faixa é um apanhado de entrevistas importantes que concedi, com samples de Marília Gabriela, Faustão e Pedro Bial. Refresco a memória de quem não se lembra ou não sabe da minha trajetória midiática. Termina com o rapper Ligado, que saiu de Fortaleza para o Rio de Janeiro em 1990, para divulgar o trabalho dele no meu programa de rádio”.
2. Bocejo
“Descrevo uma pessoa num barco rodeado por lama ao invés do mar azul, para conclamar o grande despertar coletivo. É a única salvação possível para uma nação que só afunda”.
3. Nóiz Mermo (participação ADL)
“A letra expressa a indignação coletiva com a gestão pública e as consequências na política social do Brasil. Quem está ao lado do povo, fazendo por ele, é o próprio povo. Uma gíria familiar que define essa auto-representação nomeia a faixa”.
4. Nossa Lei (part. Kmila CDD e Stefanie)
“Nessa eu divido os vocais com dois talentos femininos do rap – minha irmã Kmila CDD que já participou de vários trabalhos meus e tem uma voz muito marcante, e a outra é a rapper Stefanie de Santo André (SP) que tem um flow único e forte. As nossas três vozes juntas mostram o poder e o tamanho da nossa força, da Nossa Lei.”
5. Milicítico (part. Bob do Contra)
“Indignação coletiva perante a atual governabilidade brasileira, que traz à tona injustiças sociais, violências, apatias e desigualdades. Uma das músicas com discurso mais forte, força instrumental, suavidade no refrão e agressividade na letra”.
6. Essência
“Trago quatro mulheres da Cidade de Deus, que exaltam a sagacidade de suas origens e potência vocal. Três delas me carregaram no colo e uma estudou comigo.”
7. Sintonia Real (part. Filiph Neo)
“Explora a sintonia física, carnal e picante, importante para uma relação entre casais, sem se prender a clichês.
8. Última Forma
“Fala justamente quando o casal só tem sintonia sexual e não tem a objetividade de construir um futuro. Cristina, minha vizinha na Cidade de Deus, mostra a indignação feminina em uma atuação”.
9. No Calor da Emoção (part. Marrom)
“Quando a pessoa recebe a notícia de que ela não faz mais parte dos planos do seu parceiro e cai na dor de cotovelo. Chamei o Marrom, ex vocalista da banda RZO, para uma pegada rap com elementos de jazz e blues”.
10. Rasante (part. DJ Luciano Rocha)
“Uma alusão ao título do disco. É como se eu tivesse passando de carro com microfone e alto-falantes atrás vendo as mazelas do Brasil na paisagem das favelas. No refrão, fui nos primórdios do hip hop. O DJ Luciano faz scratches com colagens de outras músicas minhas ao mesmo tempo dialogando com o que canto.”
11. Voz de Cria (part. Kmila CDD e Nocivo Shomon)
Como pessoas de dentro, temos nossos protocolos para não cair na vacilação. Nosso vacilômetro está sempre alerta para não dar mole, porque a gente é cria. Conto com os vocais poderosos da Kmila e a lírica do Nocivo Shomon”.
12. Muito obrigado – RIP
“Última faixa do disco e a última que escrevi dentro do próprio estúdio. Deixei a batida rolando, enquanto me lembrei das pessoas que se foram e acabaram esquecidas. Queria agradecer a todos que me ajudaram e não estão mais aqui. Listo alguns nomes que vieram na minha cabeça do Brasil e dos Estados Unidos, nossa referência no rap”.