Tungstênio é o sexto e mais afiado álbum da carreira do Inquérito, grupo de rap do interior de São Paulo que está na estrada desde 1999. O lançamento de 2018 comemora quase duas décadas de dedicação ao Hip Hop e tem 12 faixas, muitas delas com participações nacionais e internacionais.
Dentre as parcerias constam Zeca Baleiro, Mato Seco, Tulipa Ruiz, os rappers Rashid, Diomedes Chinaski e Nicole; Luís Travassos, cantor de fado português, o rapper angolano MCK e a cantora neozelandesa LAWN incrementam a lista com outros sotaques e batidas.
Renan Inquérito, fundador do grupo, conta que no processo de escrita das músicas sempre se deparava com a imagem da caneta, e de forma literal ou figurada, o objeto sempre estava presente nas composições deste álbum. De tanto escrever, se deu conta que a peça principal do seu instrumento de trabalho era a bolinha que fica na ponta da Bic. Ao investigar do que é feito o material esférico que dá forma aos versos, chegou ao título do disco: Tungstênio, nome de um metal resistente, duro, versátil e brilhante, como um bom rap.
“Fui caneta sem tinta tentando escrever / ferindo o papel, machucando, até que… aprendi quando vi a folha rasgada, não existe vida sem carga.” – (Coração de Camarim)
Reconhecido por utilizar a música para transformação e interferência social, Inquérito traz na canção “Anônimos” o coral Somos Iguais, formado por crianças refugiadas que vivem em São Paulo. Como diz o verso de “Histórias Reais”:
“Numa quebrada do Brasil bem perto de você, só muda o sotaque, o CEP e o RG.”
Universidades, presídios e bibliotecas são territórios comuns quando se trata de Inquérito. As letras já foram temas de vestibulares da Universidade Estadual de Campinas (UNICAMP) e da Universidade Federal de Juiz de Fora (UFJF), provando a afinidade do rap com a poesia e a literatura. Dessa atenção e dedicação aos temas sociais surgem os versos de Tungstênio, a rima cada vez mais sagaz que declama com sentimento as duras verdades de nosso tempo. Entre algumas músicas do disco, ouve-se a voz de Renan declamando a poesia “Tungstênio”:
“A gente é que nem os metais, tá ligado?
Uns são suave, outros pesa, uns são comuns, outros raros
Mas… tem um que é zika: TUNGS-TÊ-NIO
Duro e pesado, como a realidade.”
Renan, que também é educador, enxerga a arte como ensino e percorre escolas e unidades da Fundação Casa realizando saraus, shows, debates e oficinas. A vivência e troca dão ainda mais realismo à poética do Inquérito, encabeçada por Renan e endossada pela parceria de mais de 15 anos com o backing vocal Pop Black, que também contribui com as letras. As batidas quem comanda é o DJ Duh, que já trabalhou com o Inquérito no álbum Corpo e Alma (2014) e assina produções com Emicida, Kamau, Rashid e outros.
Tungstênio saiu na íntegra em 9 de março. A partir de 16 de março, Inquérito começa a turnê de divulgação que mostra ao vivo a fórmula imbatível de MC, backing vocal e toca-discos acompanhada do groove do baixista Marcelo Cruz e do peso das guitarras de Gabriel Adorno. As apresentações têm performances poéticas no estilo spoken word, em que poesias são declamadas entre as músicas mostrando a força da oralidade do rap.
Texto por Toni C., escritor, produtor cultural e membro-fundador da Nação Hip Hop Brasil.