No final de 2014, foi divulgado o resultado final do Prêmio Cultura Hip Hop da Funarte (Fundação Nacional de Arte do Ministério da Cultura). Foram, ao todo, 164 vencedores – 14 instituições privadas sem fins lucrativos e 150 pessoas físicas e grupos ou coletivos “sem constituição jurídica” -, que ganharam de R$14 mil a R$20 mil cada. Na mesma época, o prefeito de São Paulo, Fernando Haddad, anunciou a produção do maior mural de grafite a céu aberto da América Latina, realizado na Avenida 23 de Maio, uma das principais vias da cidade. O projeto contou com a participação de mais de 200 artistas e o mural possui 15 mil metros quadrados. Pouco tempo depois, o grupo Racionais MC’s lançou seu novo disco, “Cores e Valores”, que veio após um hiato de 12 anos desde o último álbum do grupo.
O que todos esses acontecimentos têm em comum? Além de sua grandiosidade e consequente visibilidade, o Hip Hop como protagonista.
Nos últimos dez anos, a cultura Hip Hop teve um aumento vigoroso do espaço que ocupa na sociedade, tornando-se essencial para definir o que é a cultura brasileira nos dias de hoje. Assim, foi-se o tempo em que era necessário sintonizar em uma emissora de rádio específica para poder ouvir Rap.
A expansão do movimento
O VMB (MTV Video Music Brasil), uma das premiações mais famosas da música brasileira, tem, dentre os 20 artistas mais premiados, 5 representantes do Rap brasileiro: Marcelo D2, Criolo, Emicida, Racionais MC’s e Gabriel, O Pensador.
Ainda em 1998, o Prêmio Multishow de Música Brasileira (conhecido por suas escolhas polêmicas dos vencedores), Gabriel, O Pensador abriu a sequência de vitórias do Rap nacional na premiação e levou duas estatuetas, por Melhor Clipe e Melhor Cantor.
Em 2000, sentindo a pungência por não existir um
No mesmo ano, criava-se a famosa Rinha de MC’s, em São Paulo, festa na qual acontecem batalhas de freestyle, shows, exposições de grafite e fotografias.
Em 2008, a TV Cultura estreou seu programa Manos e Minas, que tem o Hip Hop como protagonista. A aceitação pelo público foi tamanha que, em 2010, quando João Sayad anunciou o fim do programa, houve uma comoção nas redes sociais pela sua volta. A pressão foi tanta que o presidente da emissora voltou atrás e reincorporou o Manos e Minas na programação.
A premiação de 2011 do VMB teve como grande destaque o Hip Hop nacional. Com seu novo CD, Criolo foi um dos campeões de indicações e ganhou em três categorias (Álbum do Ano, Música do Ano e Banda ou Artista Revelação). Emicida ganhou como Artista do Ano (categoria que substituiu a Escolha da Audiência em 2007), principal prêmio da noite, o qual desde 1998 um artista de Rap não vencia, e colocou em palavras aquilo que todos estavam sentindo: “Estamos promovendo uma reforma agrária na música brasileira”.
Em 2013, foi lançado o documentário “Cidade Cinza”, dirigido por Marcelo Mesquita e Guilherme Valiengo. O filme trata da época em que Gilberto Kassab, como prefeito de São Paulo, iniciou um processo de higienização urbanística, apagando pixos e grafites da cidade. O enfoque se dá no episódio em que um mural de 700m2 foi eliminado da avenida 23 de maio. Tal acontecimento foi um fator significativo para o aumento da visibilidade e do respeito pelo grafite no Brasil.
Por que esse boom?
Segundo Thiago Saraiva, coordenador de articulação e difusão das Fábricas de Cultura, “provavelmente, o que levou o Hip Hop à categoria de manifestação central da cultura jovem atualmente em São Paulo foi a sua pungência, a sua urgência e a capacidade de retratar a realidade na qual essa prática artística está inserida de forma tão intensa que gera uma identificação imediata com o público. Mas isso é só especulação da minha parte. É evidente que o talento dos artistas é fator dos mais importantes nesse fenômeno”.
Graças a projetos que promovem o empoderamento e o protagonismo da juventude, principalmente através do Hip Hop, como as Fábricas de Cultura, o VAI (Programa para a Valorização de Iniciativas Culturais), a CUFA (Central Única das Favelas) e o CCJ (Centro Cultural da Juventude), jovens das favelas, que antes não viam um futuro fora do tráfico e do crime em geral, agora são MC’s, produtores, DJ’s.
Nas palavras de Marcelo Moraes, rapper de Petrópolis conhecido também e principalmente por Durango Kid, “talvez a gente ainda não tenha uma visão muito política da coisa e tal, a gente vê o Hip Hop também como um movimento social, vê a cultura intrinsecamente como um movimento social”.
Um texto escrito por: Lana Ohtani (lanaohtani@gmail.com)
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