Atuando como beatmaker, produtor e DJ, Goribeatzz tem uma extensa e prolífica carreira. Dando seu pontapé inicial em 2008, ao lado de Arthur Moura na produção do disco “Visões Remanescentes” do grupo Fluxo, ficou responsável pelo processo de gravação, mixagem e instrumentais. Desde então, o artista vem consolidando seu nome no hip-hop, seja trabalhando com grandes nomes ou difundindo a arte dos beats através de palestras e workshops. Sendo um dos pilares da cultura nos últimos anos, um de seus maiores destaques foi a participação no selo Café Crime, onde participou do clássico contemporâneo “Castelos & Ruínas” (2016) do carioca BK.
Celebrando as raízes do rap por meio do uso único de samples e trazendo uma identidade bastante particular para o tradicional boombap, Goribeatzz vem concebendo belos trabalhos autorais. Com a série de discos “Algoritmo“, tendo seu primeiro volume lançado em 2018, o produtor dá espaço para novos e talentosos MC’s, homenageia e dá voz aos professores de outras gerações, além de apresentar uma coesão ímpar ao reunir os mais diversos artistas da cena de maneira perfeitamente calculada. Isto que vemos em seu novo álbum, “Algoritmo, Vol.2“, lançado no último dia 20 de julho.
Apresentando 17 faixas, o trabalho conta com a participação de Inglês, Cronixta, Aori, Santuspê, Ramiro Mart, Espião, Zorack, Matheus Coringa e muitos outros. Mais do que uma coletânea de batidas e versos soltos, o trampo é uma inteligente coletânea, evidente em seu conceito e musicalidade. Revivendo a Golden Era em pleno 2020, há uma clara influência do rap do início dos anos 90, com baterias secas e colagens sagazes, batidas que Wu Tang Clan, Nas e Rakim facilmente poderiam cuspir fogo em cima. Porém, Gori vai além do saudosismo e consegue trazer uma roupagem totalmente renovada para o mais clássico dos clássicos, como em “Slick Rick” ao lado do carioca Daniel Shadow.
Trazer uma atmosfera musical que vai de encontro as tendências do mercado musical é uma tarefa corajosa. Entretanto, esta postura é constante em “Algoritmo, Vol. 2“, quando Gori joga para o alto os binários das plataformas digitais, unindo a contemporaneidade com o rap de outras datas. Na faixa “Conteúdo Adsense“, o beatmaker junto de Thiago Ultra (do grupo antiéticos) e Santuspê, exibe duas escolas do hip-hop do Rio de Janeiro, dissertando a respeito de racismo, carreira e até mesmo coronavírus. As visões de diferentes épocas deixa clara algumas diferenças estéticas, mas também demonstra as similaridades com quem vivência todo os dias o underground.
Reviver os alicerces da cultura brasileira é um dos princípios do rap, os samples, referências e o próprio conhecimento cumprem este papel. Contudo, às vezes mais que isso é preciso, pois as vozes deste mestres devem continuar ecoando de forma prática e Goribeatzz nos proporciona está dádiva em uns dos pontos altos de seu discos. “Numtôlegal” e “Atemporal” têm versos de Espião (Rua de Baixo) e Zorack (Ascendencia Mista), fazendo o que sabem de melhor, o primeiro rimando de forma quase cantada a respeito de suas inquietações sociais e outro, usando do sarcasmo para fazer um retrato mental muito intimista. Tratando de espectros diferentes em prática, mas que influem entre suas essências, os dois MC’s provam porque são seminais no estabelecimento do underground.
Goribeatzz orquestra um dos trabalhos mais criativos, bonitos e coesos deste louco 2020. “Algoritmo, Vol. 2” é uma das mais evidentes provas de que o cenário independente corre de forma grandiosa com seus próprios pés, sendo desde seu princípio seu próprio motor e inspiração. Confira: