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A Semana de Arte de 22 e o Rap Nacional, com Luan Bacc

A matéria apresentada faz parte do Projeto Relativa, que exercita a situação hipotética da ocorrência de uma Semana de Arte Moderna de 2022 – “Como ela seria?”.

Luan Bacc, 18; Rapper, Praia Grande – SP

É após o falecimento de sua avó que Luan Bacc é criado como uma personalidade artística de Luan Fernandes que se expressa; Luan Bacc é a própria expressão de dores e feridas que o mundo causou a um jovem marginalizado.

[…] Antes, eu queria fazer trap; uma coisa muito mais comercial, pra ganhar um troco […] e aí eu comecei a colocar meus sentimentos nas letras e, assim, a me libertar dessas dores. […]”.

Luan Bacc

E suas dores perduram de tempos atrás. Luan é vítima do apagamento da história indígena – ancestralidade herdada pela linhagem de seu pai, a qual está perdida no tempo, sendo o remetente de Luan Fernandes uma incógnita para si mesmo.

[…] Eu ainda tô me descobrindo muito, de dois anos pra cá, sobre política, questões raciais, sobre a estrutura capitalista; sobre mover o mundo dessa forma chata de morte, de fome […]”.

Luan Bacc
Luan Bacc em Cypher do DJ Silas Groove

Jovem pardo, embranquecido pela perspectiva eurocêntrica apossada do Brasil, mover esse mundo chato é um grande propósito ao rapper modernista, e o agente dessa movimentação colossal é o próprio Rap. “[…] Eu ouço Rap, eu faço Rap; eu vivo o Rap! […]”, disse Luan Bacc quando perguntado sobre o gênero. O Rap, segundo Luan, “é uma realidade cantada (que) me ajuda a entender o mundo.”.

‘Mil Faces de um Homem Leal’, do Racionais, me fez conhecer o Marighella; eu comecei a ler o Manifesto Comunista por causa do Don L […]”.

Luan Bacc

Embasado ainda por Galo de Luta, personalidade importante do movimento de Entregadores Antifascistas, e por Massive Ilegal Arts (M.I.A.), pixador e ativista, Luan Bacc nos deixa claro que o movimento de resistência contra a exploração da população periférica, contra a eurocentricidade brasileira e contra uma história escrita por uma perspectiva estrangeira são parte fundamental do Rap. A luta está no Rap, e é pelo Rap que Luan Bacc se propõe a mover esse mundo chato. O Rap, então, compõe a Nova Antropofagia.

Obra modernista “Abaporu”, de Tarsila do Amaral

[…] a Semana de Arte de 1922 foi da elite contra a elite. […] mas, se quer falar de arte moderna no Brasil, tem que dialogar com pessoas pobres, periféricas e pretas! […]”,

esclarece Luan, apontando o Rap, entre outros gêneros, como um dos principais meios de diálogo com o público periférico, que é a grande maioria de pessoas do Brasil. Luan Bacc reforça ainda o Rap como gênero já expandido no país, descentralizado do eixo sudestino:

[…] os artistas gringos vão fazer uma turnê no Brasil, mas não é no Brasil; é em São Paulo ou no Rio de Janeiro. Tem que enxergar todas as regiões. […] no Norte tem Victor Xamã; Don L e Matuê no Nordeste; Caju e Castanha, do Repente; o mineiro Djonga.”,

e concluiu a resposta dizendo que o artista underground “é como água, que só quer um espacinho pra entrar e se evacuar”.

O artista Luan Bacc, representando o Rap na nossa matéria sobre a Semana de Arte Moderna de 2022, busca, através da sua arte, não apenas curar, mas também ser curado. É quando podemos voltar ao início: o Rap é a expressão de dores; vômito do que fica entalado na mente e no peito de Luan. Por isso, é cura para si mesmo, acima de todas as intenções… o resto é consequência!

Capa do álbum “Gordinho Abusado”, de Luan Bacc

Conheça os dois novos trabalhos de Luan Bacc: o EP “Remetente de Nós”, sobre ancestralidade, e o álbum de trap “Gordinho Abusado”, com os dois pés na porta.

Clique aqui e conheça o artista.

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