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Entrando no Oceano de Francisco e desvendando um pouco das músicas ‘Juvia’ e ‘Catedrais’

Rodrigo Zin e seu Francisco Oceano: Parte 1 | Parte 2 | Parte 3 | Parte 4 | Parte 5.

Essa é a segunda parte de uma série de matérias que o RND produziu para falar sobre o trabalho de estreia do rapper de Curitiba e integrante do grupo 0800 Crew.

Rodrigo Zin, de fato, é a promessa do ano de 2018. Assim como Matuê foi a promessa de 2017, ambos fazem raps com muita qualidade, porém com propostas diferentes, mas é indiscutível que os dois tem um talento acima da média, além de terem uma facilidade de musicalizar um rap, como poucos dentro da cena.

Na primeira parte falamos um pouco sobre Francisco Oceano como um todo e destrinchamos a primeira faixa do EP, que inclusive deu nome ao EP, “Francisco Oceano“. Agora chegou a vez de falarmos de duas músicas, a faixa dois e três, “Juvia” e “Catedrais“.

Juvia

Quando a primeira faixa está acabando, é possível ouvir um barulho violento das águas, provavelmente por causa de um Tsunami e é assim que começa a segunda faixa do EP, seu nome “Juvia”.

Na segunda faixa, o som que ouvimos é o som de um oceano calmo, seguido de vozes de coral, só que dessa vez, o coral foi feito com um mix de vozes do próprio rapper. Fica bem claro que a utilização de sample vocal de coral é uma das técnicas que Zin mais utilizara nesse trabalho como um todo. A respeito dos Corais (de voz) – Na maioria das faixas, as “ondas” harmônicas de voz estão presente, dando vida e cor à esse “oceano” – exatamente como fazem os corais.

A música começa com um arrastado: “Ocean”. Que é a forma abreviada na referência de Frank Ocean, o responsável por dar nome ao EP, Francisco Oceano.

“Não dá mais pé / Esse mar / Não dá braço / Não dá boca / Pra beijar”

Aqui Rodrigo Zin está humanizando o Oceano. Ele vê a sua amada, como uma personificação do mar. Nessas linhas podemos perceber, que o mar já não quer o Rodrigo Zin – está se afastando e ficando mais fundo. Não é como se Rodrigo Zin fosse um Frank Ocean, mas sim, um oceano vasto – alguém que comporta muitas coisas e precisa ser explorado.

Além de oceano, Zin sente que é um amontoado de dores, planos (sonhos e metas), mas também, sente que se encontra em um momento onde mesmo enfrentando algumas dificuldades, acredita que sua vida está indo bem.

“Oceano, dores, plano
Vida passando bem
Eu só procuro Atlântida em você
Meu bem”

Nesse momento, Rodrigo Zin se refere a Atlântida e essa palavra talvez tenha um significado ainda maior para o RND, pois entre 2016 e 2017, Rodrigo Zin enviou um amontoado de músicas para o RND, era uma mixtape, algo em torno de 20 músicas e nesse amontado de músicas tinha uma música chamada “Atlântida” e “Atlântida 1.5”, no mínimo essa não é uma palavra com um significado qualquer para o artista, ela deve ter muito mais sentido do que a explicação básica da palavra, que é:

Atlântida, que em grego significa “filha de Atlas”. Uma lendária ilha ou continente cuja primeira menção conhecida remonta a Platão em suas obras: “Timeu e critias, ou, a atlantida“.

Nos contos de Platão, Atlântida era uma potência naval localizada “para lá das Colunas de Hércules”, que conquistou muitas partes da Europa Ocidental e África 9000 anos antes da era de Solon, ou seja, aproximadamente 9600 a.C.. Após uma tentativa fracassada de invadir Atenas, Atlântida afundou no oceano “em um único dia e noite de infortúnio”. – Wikipédia

Zin procura por Atlântida, porém acredita que isso só será possível, apenas se todos os mares deixarem de existir. Ao dizer que procura Atlântida, em sua amada, afirma que busca algo difícil de ser achado. Talvez o que ele procura em sua amada, já nem exista mais – Algo que se perdeu “em um único dia e noite de infortúnio”.

O momento mais agressivo da música fica na hora do refrão, quando Rodrigo Zin questiona sobre o quanto já passou lutando – pela música, pelos seus planos, sonhos e metas – e quantos Rappers ele já “matou”. Rodrigo Zin faz esses questionamentos, assim como um mar violento, cheio de agressividade.

“Ou seja, quantas vezes eu já fui melhor que os outros, que estavam rimando comigo na mesma faixa? E mesmo assim eu não estou satisfeito com isso. Lembrando que matar, é um pecado terrível.”

Para o Rodrigo Zin, um de seus pecados, além da luxúria, é ter falado de amor e não ter demonstrado o mesmo. E acredita que hoje em dia, ele fala de amor e luta pelo amor em suas letras, pois assim encontrará a redenção e estará pagando por seus pecados.

Eu chego e (TU TU TU TU) como irei te ajudar?

Como ajudar outras pessoas, se chegamos violentos demais, se “matamos” demais, se muitas vezes somos hipócritas e não seguimos nossos próprios conselhos?

Rodrigo Zin, acredita que além de ter pecado, ele fora hipócrita demais – ao falar tanto de amor e acabar se afogando em suas próprias palavras. Mas quem nunca foi hipócrita não é mesmo? As pessoas mudam e merecem uma segunda chance, entretanto Rodrigo Zin sabe que não importa os caminhos que escolher, todos levam a morte. E seu desejo é se opor à morte e se vingar, se tornando imortal.

“Nesse momento na música, eu estou passando por um processo de transformação, me tornando um personagem mítico, o qual se autoproclama “Ninguém”, mas isso contarei mais para frente, em futuras letras.”

E quando acha que terá um momento de descanso, se encontra fumando um cigarro atrás do outro para tirar o perfume de um antigo amor, de sua roupa.

“A princípio pareciam palavras carregadas de ódio, mas a verdade é mais triste que isso… Não é mesmo?”

Zin está coberto com o fedor das pessoas, talvez seja dos rappers que já matou? Da poluição?

Agora sim, Rodrigo Zin, mostra certa raiva e rancor por toda essa situação e tudo ao seu redor, afinal, todo mar se revolta em algum momento.

Catedrais

Na terceira faixa do EP, na música “Catedrais”, analisaremos de um jeito mais brando, já que a música tem um tom de homenagem a cidade de Curitiba.

“Viro Nome de rua
Já que quem mata mais, ganha o prêmio primeiro”

“Viro nome de Rua” – Afinal existem ruas com nomes de pessoas importantes e até de santos. Só que o caso é diferente. Pois muitas ruas possuem nomes de Coronéis, marechais, generais e pessoas ligadas com a “guerra”. E é aquele ditado: na guerra, o “vencedor” dita a história e consequentemente sai ganhando em cima dos perdedores.

“Não serei condenado / Pois eu me condeno
Por falar de um amor tão grande / Pra ouvidos pequenos”

Rodrigo Zin, acredita que está pagando por seus pecados ao falar de amor, entretanto se sente condenado, talvez por uma ironia do destino, por falar de amor para pessoas que não estão nem aí para o amor. Lembrando que, este não é um amor romantizado e sim um amor que se assemelha a um amor ao próximo ou amor próprio.

“Não sei mais – O que deixar aqui pra vocês…”

Neste momento Rodrigo Zin não sabe o que vai deixar quando partir, além de suas músicas e amor. Isso fica obvio, pois esse verso é repetido várias vezes, por que é uma certeza que precisa ser reforçada na cabeça do artista e ao mesmo tempo é uma certeza duvidosa, pois Zin não sabe se de fato as únicas coisas que ele irá deixar será seu amor e sua música.

No verso seguinte entra: “Paz, a tua paz”, que é um sample da música “De Joelhos” de Rafaela Pinho e Communion. A versão da música que Rodrigo Zin usou para samplear, talvez seja uma das versões mais bonitas da música e casou muito bem com a vibe imposta por ele dentro da track.

“Não veio fácil, me condena e me devora”

A Paz se conquista através de batalhas e de guerras. Guerras trazem péssimas lembranças, elas nos consomem, claro, tanto as guerras, quanto as lembranças.

Após esse verso, Zin vem muito forte mandando versos que auto descrevem de maneira particular a sua cidade, uma bela homenagem, quem mora nesta cidade consegue captar de cara do que se trata, para quem não mora na cidade, os locais descritos soam misteriosos, mas ao mesmo tempo que tem um tom de mistério, fica claro que o artista está descrevendo um local. Sim, o local se chama Curitiba.

O que vem por aí?

O próximo passo de Rodrigo Zin é o lançamento do primeiro vídeo clipe do EP e a música escolhida é “Noitosfera” com participação do rapper Dé Saiyajin. O vídeo será lançado nesta sexta-feira (26) e faz parte da remessa de lançamentos que o artista fará em 2018.

Chefe TF, Asiatiko, Rodrigo Zin, Dé Saiyajin (0800 Crew)

Com tudo isso, o artista ainda tem tempo para fazer participações em projetos de parceiros e sua última participação aconteceu hoje, no trabalho “Era da Muda Informação“, música do rapper GnoMonstro.

A instrumental foi feita por Rodrigo Zin, assim como gravação, mixagem e masterização.