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Em projeto grandioso, Fernaun + Madbredas prometem lançar álbum audiovisual com nove faixas inéditas.

Fernaun + Madbredas, lançaram nesta terça-feira(16), o seu novo single do projeto intitulado “Entre Muros e Poesias”, a faixa, que ganhou o nome de “Camisa 10”, integra um grandioso projeto audiovisual que contará com a participação de importantes poetas da cena Slam. 

Para conhecer melhor este trabalho, trocamos uma ideia com o rapper e poeta Fernaun, que nos contou sobre seu processo criativo, seu trabalho na educação e sua responsabilidade enquanto um homem branco no rap. 

Como surgiu a ideia do “Entre Muros e Poesias”?

Fernaun: O projeto teve inicio ano passado quando eu lancei um EP e já tinha uma parceria com o Madbredas. Nós já tínhamos uma ideia de fazer um trabalho voltado para o rap e a ideia era fomentar meu canal do youtube, no mesmo ano um amigo falou do edital de músicas e então decidimos escrever e mandar. Inicialmente pensamos em um álbum físico, mas discutimos se isto ainda era usual e acabou que decidimos fazer tudo audiovisual e subir nas plataformas digitais para acesso de todos. Serão nove músicas e todas terão um clipe que será disponibilizado no canal da Mandril Áudio Produções. Após o lançamento de todas as faixas, faremos um circuito de cinco shows nos diversos equipamentos da prefeitura para que a periferia tenha acesso. 

“Entre Muros e Poesias” é um projeto de rap, literatura, poesia ou um mix de tudo?

Fernaun: Eu considero a obra poética – já que o rap é poesia e poesia está inserido em literatura.

Como foi o processo criativo da faixa “Camisa 10”? 

Fernaun: Eu escrevi a música há dois anos atrás e a fiz como na maioria das vezes, coloco o beat para tocar no fone de ouvido, entro no ônibus e vou escrevendo. Um dia antes de escreve-la eu estava num debate e fiquei pensando sobre este esquema tático do futebol, já fazendo uma analogia aos movimentos sociais. O camisa 5 é o volante, que é o cara que faz a contenção, distribui para o ataque, mas não ganha o protagonismo. Já o camisa 10 é o astro, todo mundo quer ser ele; coordenar, organizar, ser destaque, mas não quer carregar o piano. A critica é sobre isto, querer ser o protagonista sempre e não entender que existe um importante trabalho na base, onde estão os coadjuvantes. Embora tenha sido escrita há um tempo, ela segue atual, diferente de outras coisas que eu já escrevi e não acredito mais. 

Quem são as participações do “Entre Muros e Poesias”? 

Fernaun: O projeto vem com grandes participações, uma delas é a poeta Kimani, uma mestra, minha melhor amiga e que me ensinou muito, por isto, faço questão de tê-la em todos os meus projetos. Outra pessoa que estará no álbum é a MC Mana Bella, eu a conheci trabalhando num bar quando o Madbredas foi cantar, ela tem um trabalho grandioso no rap e possui uma caminhada gigantesca, fora que tambem é uma parceira e amiga. O terceiro convidado é o Renato Kolla, tenho ele como mestre e grande parceiro, mesmo sendo jovem. Eu o vi num Slam e lembro de ir comentar com ele o quanto o trabalho dele era bom, acabou que viramos amigos e eu acho importante te-lo neste projeto, pois ele tem uma qualidade vocal e de escrita impressionante.

O Madbredas é uma banda de rock, como foi esta conexão num projeto de rap e poesia? 

Fernaun: O encontro com Madbredas foi um encontro bacana, o guitarrista é o Edu e nós trabalhamos há muito tempo atrás de garçom. Numa das nossas folgas nós nos reunimos e começamos a tocar juntos e ali eu já vi que rolou uma sintonia, tempos depois ele me chamou para um show da banda e foi ali que tudo fez sentido. Eles fazem um som muito diferente e enquanto eles tocavam eu ia rimando, então resolvi fazer um convite para produzirmos juntos. À primeira vista parece uma banda de rock, mas acho que eles são além disto, Madbredas traz a sonoridade que eu preciso e considero importante para o rap. Sabotage, Marcelo D2 e outros já mostraram que misturar estilos dá certo, é só ver pelos samples que, nada mais são, uma mistura de gêneros musicais – uma bagunça boa. É um privilégio ter uma banda destas comigo e para abrilhantar o time eu chamei dois músicos incríveis que são; Rodrigo Ramos, Johnny Bolzan e ambos integram a banda base do projeto, junto com os demais. 

Você se considera mais rapper ou poeta? 

Fernaun: É uma ótima pergunta (rs). Acho que me considero os dois(rs), mas eu me encontrei mesmo quando eu fui em um Slam. Ele me desafia muito mais, colocar uma poesia bem construída, dentro da mensagem que quero passar, é sempre desafiador. Se bem que eu acho que no momento eu me vejo mais poeta. 

O Rap e a cena do Slam são ferramentas que se manifestam em prol da educação. Como professor, como você tem enxergado essa nova roupagem do Ministério da Educação? 

Fernaun: Eu acho que sempre foi delicado, mas a estrutura vem piorando, vejo isso pelo movimento dos secundaristas. Gosto desta questão e aborto isto, principalmente nas aulas de cursinhos que eu dava no Grajaú. Imagina as crianças lá por vontade própria e por um sonho de uma família inteira que deposita neles a primeira possibilidade de fazer uma faculdade. As escolas públicas são defasadas e pensadas para remeter a um sistema carcerário, mas diante disto tem professores incríveis na rede e que tem fomentado a poesia marginal, literatura e o rap em suas escolas. Justamente por entender a importância da arte na construção do jovem. 

A discussão sobre quem pode fazer rap ou não tem tomado as redes sociais. Você, enquanto um rapper branco, qual sua responsabilidade com este elemento que é originário das pessoas negras? 

Fernaun:  É uma responsabilidade gigantesca e eu falo sobre isto sempre que posso, entendendo qual é o meu lugar e de que lugar estou partindo. A música “Camisa 10” é justamente sobre isto, sobre não sermos o protagonista sempre, tá tudo bem eu ser o Camisa 5. Eu vim na cena para somar, fazer o invisível e me colocar em lugar de escuta e cuidado. Minhas músicas e poesias são direcionadas ao homem branco, para que todos reflitam e entendam que as opressões estão na sociedade como um todo. 

Assista agora “Camisa 10”.