Edi Rock deu uma entrevista completa ao site Na Mira Groove, com direito a um vídeo feito por Ogil Silva. Não tenho muito o que falar sobre essa entrevista, a não ser elogiar o excelente trabalho do namiradogroove.com.br. (confiram o site, vale muito a pena)
Video:
[youtube]http://www.youtube.com/watch?v=rSixUWAdBYg[/youtube]
Segue a entrevista abaixo: Extraído do portal Na Mira Groove
Além de você, mais alguém dos Racionais vai lançar disco solo?
Neste ano estamos programando assim: o meu CD, o CD do Brown, o do Ice Blue e o do KL Jay. Na sequência, Racionais.
Tudo numa paulada só?
Sim, mas enquanto trabalhamos solo, vamos fazendo o do Racionais. Vai sair no ano que vem, depois do Carnaval. Neste ano não vai sair, senão já teríamos que estar gravando, pra mixar, masterizar, fazer divulgação, escolher músicas… Tem toda uma logística. O meu, comecei a gravar no ano passado. Nele, tem músicas de seis anos atrás.
Como você chegou a esse segundo trabalho solo?
Faz muito tempo que estou querendo fazer um trampo sozinho. Tem 10 anos que o Racionais não lança nada [físico]. E, nesse meio tempo, ficamos parados. Então, eu tenho vontade de fazer umas paradas que não dava pra fazer no Racionais, como participações com meus amigos do dia a dia, com vários grupos, com vários cantores e com novos talentos que ninguém conhece.
Gosto de trazer novidades, um mix com músicas que não somente eu curta e que não sejam só de raízes negras, mas música brasileira com suas vertentes. Tem que inovar, não dá pra ficar só no mesmo refrão ou na mesma batida. Estou aproveitando essa ocasião para colocar o meu [disco] na rua, com vários parceiros.
Que parceiros, por exemplo?
Bom, hoje o pessoal já conhece o Don Pixote. Tem nomes conhecidos, mas ninguém espera, por exemplo, uma parceria minha com o Alexandre [Carlo], do Natiruts. Ninguém espera uma parceria minha com a Sandra de Sá ou com o Seu Jorge.
Chamei o Calado, que era de um grupo chamado U-Time, tem a Flora Matos, Rael da Rima, vários DJs. Esse disco tá bem recheado. Tem samba no meio; chamei uma galera de raiz que se chama Quinteto em Branco e Preto, tem o Samprazer. O disco foi idealizado por pessoas que são próximas e amigas, e pessoas que eu sou fã também: Dexter, Marina de La Riva, tem reggae, ragga, a Karin Hils [Rouge]. E o Brown também, a família, pra abençoar o trampo. Do mesmo jeito que vou participar do disco deles.
Tem alguma temática que se sobressai no disco?
Respeito e união estão próximos. Mesmo que não sejam possíveis no dia a dia, tem que ser idealizado. O disco fala disso, de hombridade, respeito, caráter, mensagens positivas, de você está sempre remando contra a maré, mas não desistir nunca. Meio que autoajuda.
Mais reflexivo mesmo?
Sim. Tem música pra dançar também, mas que nunca perde a mensagem. Eu não deixo perder. Sou do lema de não perder a viagem, nem que seja na batucada. Tem que mandar um ‘paz, amor, respeito’ – sempre! Esse é o papel do rap, eu acredito nisso. A gente luta pela paz vivendo na guerra.
Na música “That’s My Way”, tem uma rima que ouvi uma vez no som “19 Rebellions”, do Asian Dub Foundation…
Ela é de uma música do Tribunal Popular, que chama “De Preto pra Preto”. Participei desse disco, e na época o Dexter era desse grupo.
Você chegou a falar com os caras do Asian Dub?
Não, na verdade quem fez o mix foi o Negralha. Depois que ele me comunicou. Quando ouvi, não entendi. Fiquei, tipo: ‘como assim?’, ninguém me falou nada e a música estava bombando na internet. Sugaram a minha rima inteira. Aí depois o Negralha chegou em mim e disse: ‘Ah, fui eu quem fiz’. Falei: ‘aaah, então tá pela ordem’.
Nem trombou os gringos depois?
Nunca. Nem conhecia. Passei a conhecer depois que os caras usaram meu rap inteiro, nem foi só minha voz. Eu até curti, gosto de estilo assim.
O que você anda ouvindo ultimamente?
Ouço de tudo: samba, forró, axé, o que tá tocando, pra perceber o que tá acontecendo. Não consigo ficar muito tempo na internet, a não ser em relação a trampo e fazer o que tenho que fazer. Mas acompanho muita coisa, tipo a novidade do holograma [do Tupac] no show do Snoop Dogg. Temos que estar antenados a tudo. Ouço funk pancadão, carioca e paulista.
Mas não sei se todo mundo ‘abraçou’ bem esse funk atual…
O som é brasileiro, e brasileiro gosta de curtir, de se distrair, de diversão. Por isso o funk faz tanto sucesso, porque tem ritmo, que já vem da África. Essa coisa nossa de sangue quente vem lá do outro lado do oceano, do atabaque, do terreiro. É isso, não tem como negar, tá no sangue! A gente exporta música e isso é muito foda.
E technobrega?
Não curto, eu ouço. O que curto é soul, funk, R&B, rap, sei lá… blues. Jazz um pouco, porque não gosto da improvisação, gosto mais de som rítmico. Mas, total respeito. Pra mim é mais blues. Gosto de música mais sentimental.
Esse lado mais intimista eu vejo como característica sua desde os primeiros discos do Racionais.
Aquilo que você ouve e dá um aperto no coração, né? Faz você voltar no tempo.
Seu vocal não é tão agressivo, mas…
Hipnotiza. Eu faço isso, é proposital. Porque eu me vejo nessa situação. E falo: caralho, isso tem que ser passado pra frente. O bagulho te domina, você vai numa onda que chega no teu ouvido.
João Gilberto era assim, né?
É… tem a ver. Respeito muito a linha Tom Jobim, Elis Regina é muito foda. Na gringa, meu som é tipo Chaka Khan. É daí que vem toda a geração de Mary J. Blige, Beyoncé, Whitney Houston. Ela veio depois da Etta James, que também é mestra. Amy Winehouse se inspirava total nela, tanto que morreu, foi além na inspiração.
Hoje em dia, você acha que a periferia tem se afastado do rap?
Nunca se afastou. O problema são os locais de show, valores, preços: isso contribui para que a pessoa vá ou não. Valor influencia muito. Por exemplo: fizemos quatro dias de show no Sesc e esgotou no primeiro dia de venda!
Mas o Sesc não é um lugar tão voltado pra periferia.
Lá é aberto pra todo mundo, misturado. Porque o lugar te oferece uma comodidade. Tinha que ser assim, sempre. Mas não é assim: às vezes as pessoas têm receios, preconceito, tudo ao mesmo tempo. Tipo um funil.
Você, que já tem mais de 20 anos de carreira, ainda sofre com esse problema de má interpretação artística?
Essa coisa de interpretarem a gente errado é porque falamos pouco. Damos poucas entrevistas. Também não é abrir as pernas, porque não é favorável. O que estamos vivendo agora tem que ser falado agora. Estamos pensando melhor, montando equipe com profissionais. Já passou da hora, estamos bem crescidinhos, tamo até velho pra certas coisas! Mas não temos passos pra errar; temos que ter certeza de que o passo será dado de forma certa.
Isso te torna mais prático, né?
Mais prático, mais rápido, mais simples, sem perder tempo. Não ficar no jogo de xadrez. Deixa isso pros monges…
Imagino que essa coisa do CD solo deve ter sido pensada em um tempo curto.
Sim, tudo favoreceu. Veio investidor, que acreditou, virou amigo, virou irmão, virou sócio. Essa era uma oportunidade boa. Se fizer direito, com as pessoas certas, acontece. Olha o Criolo, o Emicida: estão mostrando seu trabalho e não estão fazendo merda, não estão precisando fazer ‘Dança dos Famosos’. Não quero pisar na minha língua, mas quer ir no ‘Altas Horas’, no ‘Jô’? Legal. Agora vai ir no ‘Faustão’, que não tem nada a ver. ‘Ô loco, meu!’, pô, você fica sem ação, não sabe se você é simpático, se é fã, sisudo, se impõe respeito ou não. Aí você tem que decidir o que quer. Nós não vamos, não tem como, cara! Você imagina o Racionais no ‘Faustão’ fazendo o quê? Comendo pizza? Vendo pegadinha?
(Risos)
Fazer rap depois dos 40 não é a mesma coisa que fazer rap com 20, 30 anos. Como essa mudança acontece?
Eu acho que é a mesma coisa. Antes a gente fazia sem responsa, a diferença é que hoje tem todo um caminhão de areia e você tem que saber lidar com esse peso. Não pode fazer o que se fazia há 20 anos, é outra fita. Mas é o nosso meio natural, não fazemos qualquer coisa. Somos bem perfeccionistas. Estamos puxando um bonde e não podemos errar. Às vezes acontece, mas nunca penso no erro, penso no progresso.
E o show no Lollapalooza, como foi?
Louco.
Reclamaram por causa do atraso.
É porque foi a primeira vez que um grupo de rap tocou em um festival de rock no Brasil. É novidade, inusitado. E aí, gostei muito, os caras gostaram, tinha uma puta estrutura. Aconteceram alguns erros de última hora, como problemas no telão, iluminação e a questão do horário. Chegamos lá às 19h e a questão do atraso foi da organização do evento, que não quis conflitar os dois palcos com a apresentação principal. E os próprios organizadores também queriam ver o show.
Vai fazer apresentações solo do disco?
Os shows vão acontecer: show com Seu Jorge, show sem o Seu Jorge, com meus parceiros. Penso em fazer os shows maiores em teatros, tá ligado? Com peças, cenas. Estamos vendo.
Vocês vão disponibilizar o álbum na internet?
Sim, mas entre aspas. Vai ser aos poucos, algumas sim, outras não tem como. O que a gente pode fazer é de outra forma, com shows, patrocínio e mais. Estamos esperando o veículo certo e a hora certa. Tudo está sendo tratado por profissionais de calibre. O rap tem que ser tratado com seriedade e o devido respeito. Chega de sofrimento. Vamos trampar sério, porque a gente tem bala na agulha!
Não deixem de visitar o site que fez a entrevista
ERRATA:
• A produção do Edi Rock entrou em contato com o Na Mira e disse que o termo ‘noiz’, do nome do disco, foi ‘suprimido’. Sendo assim, o nome correto do novo disco dele será Contra Nós Ninguém Será, como foi alterado no texto.
Creditos: http://namiradogroove.com.br
PS: Deixei todos os links da entrevista redirecionados para o site Na Mira Groove, pois eles merecem todos os créditos por essa fantástica entrevista.