2017 foi agraciado com grandes produções negras nos cinemas, que agora estão sendo reconhecidas no Oscar, talvez como um “meia culpa” dos organizadores pelo Oscars So White ano passado. Agora, a bola da vez é o documentário “Eu Não Sou Seu Negro”, que terá sua estreia dia 11 de Fevereiro de 2017, neste sábado, em diversos cinemas brasileiros.
A obra é baseada no manuscrito Remember This House, de James Baldwin, que descreve as relações étnicas durante a luta dos direitos civis pelos negros nos Estados Unidos com enfoque na morte dos principais ícones Medgar Evers, Malcom X e Martin Luther King. Mesma causa, porém, que possuía várias vertentes, o que levava a certos conflitos entre os mesmos — além do confronto com os brancos.
Engajado politicamente, Raoul Peck refugiou-se com sua família para o Congo a fim de fugir da ditadura de Papa Duvalier. Já foi taxista em Nova York, fotógrafo e jornalista na Alemanha, onde se formou em Cinema. Retornou ao Haiti com o objetivo de se estabelecer como cineasta e ativista político, onde por um breve período foi Ministro da Cultura (entre 1996/1997). Não saberia dizer ao certo se foi exatamente por ser ativista ou pelo o que já vivenciou que o fez dirigir com maestria este documentário, no qual passou a mensagem sem linhas tênues, sem se importar a quem vai ferir quando assistir.
O documentário em si não só expõe a violência vivida na época, mas também intercala com os dias atuais, com a violência policial que gerou o movimento Black Lives Matter, ao lado do já antigo movimento Black Panther. Expõe e nos faz questionar a forma que os filmes hollywoodianos e a mídia representavam os negros na época, tornando claro que, na sociedade, os negros eram sempre representados de forma bestial, inferior e que traziam doenças. A obra mostra como eles eram classificados apenas para servir o branco (como se fosse uma justificativa para a escravidão) e mostra as inúmeras formas pelas quais o preconceito existe. Não é preciso existir a agressão física para dar autenticidade ao mesmo — o racismo velado é o que mais fere, pois ele fica o tempo todo martelando na cabeça que o branco se acha superior ao negro.
Contendo cenas de passeatas contra os Direitos Civis pelos negros e dos Direitos dos Negros (que esclarece que o que eles tinham não era direito e, sim, dever, o que era garantido que não podiam lhe negar sua existência), a obra também expõe cenas de entrevistas dos líderes do movimento pelos Direitos Civis, como o autor James Baldwin respondendo que o racismo não vem dentro deles, mas está projetado na mente da sociedade branca. Por exemplo, a “síndrome de superioridade”: por que um homem branco não acredita que possa existir uma mulher negra médica, que ela tem a mesma capacidade psíquica e física?
O intuito de Peck não foi apenas passar uma mensagem, o que nos leva a refletir que o que aconteceu há 50 anos não mudou nos dias de hoje. Atualmente, vemos a repressão policial que a comunidade negra vive e a regressão que se encontra o atual governo dos EUA. Isso não é apenas em um país ou outro; é no mundo inteiro. “Eu Não Sou Seu Negro” mostra que ainda há muitos paradigmas a serem quebrados, e o mais importante: a conscientização. É preciso se conscientizar que o racismo existe e que, de fato, está mais presente do que nunca.
Crédito a Mônica Berkovich, do Cinematecando; e Geledes