Belo Horizonte historicamente sempre teve um riqueza cultural e extremamente necessária no país. Rock, pop, MPB e sertanejo são alguns dos gêneros musicais onde a capital mineira se destaca no cenário nacional. Não sendo diferente no Rap, a cidade passou por muitos anos sem visibilidade no Brasil e fora da rota do mercado financeiro da cultura. Numa década onde o Duelo de Mc’s debaixo do Viaduto Santa Tereza teve uma relevância principalmente com o Youtube, ainda havia a discussão sobre a falta de visibilidade nos artistas enquanto o foco nacional ia principalmente para o SP e RJ. Me lembro até hoje do grupo do Facebook RAP BH, onde pensávamos caminhos para mudar esse jogo e nossa cidade ter mais atenção.
Em uma época em que o foco estava todo em artistas brancos da cena, o “Efeito Sulicidio” fez que os olhares se desviassem pra outros artistas, outras cidades e outras regiões. Nessa leva de “novos” mc’s e grupos, veio também para o centro do mercado o grupo DV Tribo que além de fazer história em atividade, impulsionou diversos artistas belorizontinos pro país. Com a grandeza de BH, não seria diferente que alertaria as suas regiões administrativas, principalmente onde eu moro, a região Venda Nova e todo o seu entorno.
Em uma conversa com Winy Franklin que é advogada, gestora de carreira da artista Tamara Franklin e coordenadora da Biqueira Cultural, Winy destaca que a falta de recursos para a região é o motivo que impossibilita artistas e coletivos de produzirem mais atividades no local. O por quê disso, se dá pela falta de informação que os produtores culturais tem e também pela falta de organização entre os coletivos para que os artistas possam ser beneficiados.
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Falta um pouco de organização dos coletivos. Quando sai um edital, uma chamada, um concurso ou uma premiação, tem uma dificuldade das pessoas se submeterem a legislação por falta de documento, registro de trajetória, falta um release…
Winy Franklin
Com 7 anos de experiência em produção cultural, a advogada sugere que os movimentos devem fomentar informação para os artistas e coletivos de como os editais funcionam, para que os mesmos possam ter acesso e assim fortalecer a cultura de uma região onde praticamente todas as atividades são realizadas inteiramente pelos próprios produtores locais. Winy complementa que os organizadores de ações culturais são autônomos e que estão tão acostumados a “se virar nos trinta” e acaba que não trabalha com a possibilidade de procurar saber sobre recursos da cidade.
Dueni, meu amigo há quase uma década e Mc no coletivo em que participo, pôde desfrutar dos variados encontros de rap que acontece na região. Assim como me disse, ele teve a oportunidade de colar em praticamente todas as batalhas e um ponto importante que o Mc frisa, é que em praticamente em todos os eventos, os organizadores abriam um espaço para que outros artistas apresentassem alguma letra ou algum poema levando visibilidade à outras pessoas e reafirmando que no vetor norte da cidade, existem muitos que estão correndo atrás de viver de arte.
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Um exemplo de união em que quando as pessoas estão dispostas a trabalhar na mesma causa pode ter uma visão diferente foi a criação da BRAIN que segundo Dueni, o coletivo pode mostrar caminhos profissionais para os artistas do grupo.
Depois que a gente criou a BRAIN SAI, as coisas mudaram. Hoje eu vejo algo muito mais profissional e muito mais rentável comparando ao que era antes
Dueni
Ele acredita que os artistas da região vão alcançar grandes coisas na cultura da cidade. A certeza que tempos melhores virão é nítida na fala do Mc. Há muitas barreiras que aparecem na frente da construção de uma carreira artística e a maior é o dinheiro, acaba que atrapalha sonhos de alguém por que quando o dinheiro entra, a prioridade nem sempre é investir em música, mas sim colocar comida dentro de casa.
Posso ser bairrista demais por defender tanto a cultura de Venda Nova e a zona Norte de Belo Horizonte, mas o debate é super importante para o fortalecimento do Rap em si. Os anseios que a gente tem e as propostas de mudança, valem tanto pra cá quanto pra qualquer região da capital mineira. Seja Venda Nova, Norte, Barreiro, Centro Sul, Oeste, Leste, Pampulha, Noroeste e Nordeste. Já presenciei diversas vezes amigos meus sem 4,50$ pra passagem até o centro. O acesso a cultura que pra muita gente custa pouquíssimo, pra outras pessoas, valem muita coisa. É inaceitável que o lazer de alguém seja impedido por dinheiro! Por essas e outras, que a proposta de descentralização da cultura em Belo Horizonte é algo urgente e necessário ser apreciado pelos agentes culturais que detém um certo poder nos eventos da cidade.
Isso é Zona Norte, isso é BH! Nosso Rap tá forte, tô pra ver quem vai vir discordar.
Dueni na música Sufoco. Lançada em meados de 2018 com produção de Akin Ayo
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