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Criolo e monja budista Coen Sensei conversam sobre “Convoque Seu Buda” e a vida

No final de janeiro, a Yoga Journal, revista focada em assuntos relacionados ao bem estar, reuniu 2 gênios de seus universos. Criolo, que dispensa comentários, e Coen Sensei, monja zen budista e missionária oficial da tradição Soto Shu.

No bate-papo, os mestres falaram sobre a ideia de “Convoque Seu Buda” e claro, sobre a vida. Porem o que mais se destaca na troca de ideia é a forma doce e de respeito mutuo.

“Fiquei sabendo que sua nova música, seu novo disco se chama convoque seu Buda. Como é isso?”, perguntou Coen Sensei.

“Aconteceu no meio do processo de fazer esse trabalho. Eram 14 horas por dia criando situações. O Marcelo e o Daniel me mostravam um recorte de uma música que se transformou numa outra coisa. Achei tão forte o que eles criaram que veio diretamente na minha cabeça esta frase: ‘Convoque seu Buda’. Percebi naquela sonoridade nova, que estava ainda borbulhando, um lance de até que ponto se demonstra alguma força por meio de algo ríspido. A força é outra coisa, né? Acredito que tenho essa força e acredito que todas as pessoas têm algo muito forte dentro de si, todos os seres vivos. Quando falo Buda, não imagino imagem, mas sim a sensação dentro de mim, de movimento, de calor. Depois da frase, teci o texto, deixando aquilo caminhar por mim, e virou uma canção.”  respondeu Criolo.

Em outro momento Monja Coen pergunta: E como você começou na música?

Criolo: Vi com 11 anos um amigo fazendo um verso… era possível rimar. Depois de dois anos escrevendo, pedi para cantar em uma festa no bairro, com doação de comida, presente e de roupa. Preparei uma fita cassete e cantei duas músicas. Foi um dia lindo, todo mundo pegando seu brinquedo, sua roupa, sua cumbuca de comida feliz da vida.

Monja Coen: E o que você cantou?

Criolo: Duas letrinhas, mas não lembro.

Monja Coen: Com 6 anos, antes de ler, aprendi duas poesias com minha mãe. Uma se chamava Moleque bacurau, sobre um menino negro que não tinha comida nem brinquedos. Foi a primeira reflexão sobre desigualdade social. A outra era O crime de hoje, sobre um menino jornaleiro que anunciava a manchete do dia sem saber que o criminoso era o pai, porque não sabia ler.

Criolo: É um príncipe esse menino. Príncipe do caos… Os dois textos são bem atuais.

Monja Coen: Faz 60 anos.

Criolo: E não mudou.

Monja Coen: Quase nada. Por isso que eu digo, vai demorar, mas vai chegar.

[Foto: Camila Miranda]
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