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Como o Rap Nacional ajudou a enterrar a MTV Brasil – Por Robson Assis

Achei um texto muito interessante [highlight]sobre o fim da MTV e sobre como o Rap participou do processo[/highlight], involuntariamente ou não o texto é um ótimo raciocínio de Robson Assis, que reflete sobre a internet, Rap e MTV.

Veja no site Medium clicando aqui ou acompanhe na integra logo abaixo.

Escrito por: Robson Assis

Leandro Roque de Oliveira, o Emicida lançou nesta semana o disco, “O Glorioso Retorno de Quem Nunca Esteve Aqui”, primeiro full-lenght oficial de sua carreira, com diversas participações excelentes e até um deslize na polêmica do samba “Trepadeira”, que rendeu uma carta resposta e muito buzz nos últimos dias. Acerca de tudo que envolveu seu novo lançamento, nada ficou mais evidente do que a vitória dos caminhos independentes desta produção cultural que hoje não mais necessita de um canal específico de música como a MTV Brasil para manter seu fluxo. Portanto inicio este texto falando do Emicida, ao que me parece, um dos rappers que mais compreende a necessidade da internet para a música da sua geração. Seu canal do youtube conta com mais de 50k inscritos e algumas “atrações” específicas, como o“Enquanto você Dormia”, série do seu selo, o Laboratório Fantasma:

[youtuber youtube=’http://www.youtube.com/watch?v=CP0ZjwADECA’]
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Para o lançamento de sua mixtape anterior “Doozicabraba e a Revolução Silenciosa”, Emicida já havia produzido um comentário faixa a faixa em formato de vídeo. Para o seu novo disco, criou uma série de esquetes curtos e mais irreverentes no mesmo estilo, além de umGoogle Hangout de quase uma hora com algumas das participações em formato de entrevista e, no dia do lançamento, um documentário de 52 minutos cuja trilha sonora é o próprio disco.

Em nenhuma outra época da história da música um artista poderia criar tanto material extra sobre seu próprio trabalho dessa forma independente sem contar com a divulgação de um canal de televisão ou qualquer outro meio de mídia. Veja, o trabalho de Emicida está no disco, na produção musical. O que ele trouxe com “O Glorioso Retorno de Quem Nunca Esteve Aqui” foi abrangente no sentido de criar um universo de conteúdo relevante ao redor de sua música.

Este talvez seja o exemplo ideal de como a produção de conteúdo tem se tornado mais livre e seu alcance cada vez mais amplo. Posso citar outros casos tão ou mais relevantes, como o excelente RAPBOX, da Casa1Produtora, que apresenta rappers cantando músicas esporádicas gravadas no estúdio da produtora (num formato bem parecido com o RapCity Freestyle) e o Raciocínio Quebrado, uma espécie de programa de cultura urbana produzido pelo Parteum.

É de conhecimento geral o estado de coma em que vinha a MTV Brasil. Nos últimos anos e à beira de um visível colapso, o Grupo Abril resolveu por uma eutanásia, por desligar os aparelhos e deixá-la se transformar num canal praticamente sem programação nacional, escondido na TV fechada, apagado como uma espécie de VH1 por necessidade. Um amigo confirmou esses dias o que eu já previa: ao anunciar seu fim, a programação do canal mudou para melhor.

De qualquer forma, ainda que prosseguisse com bons programas, a MTV tropeçou em grandes erros como (a) não saber acompanhar o curso natural do tempo, (b) não se reinventar, (c) não crescer junto com quem a viu nascer e (d) mais que isso, não se adaptar bem às gerações que estavam por vir. Foi triste ver a emissora tentando acertar o timing oferecendo tão pouco espaço à música e excessiva abertura à comédia.

[Aliás, um fenômeno que merece outro texto inteiro é sobre como a ascensão do Stand Up Comedy no Brasil invadiu a comunicação. O que antes era um meio cheio de gente séria e chata, hoje tem o Globo Esporte com pautas inteiras em formato de piada, a MTV com muitos programas de comédia, Marcello Rezende fazendo do Cidade Alerta aquele churrasco com os tios engraçadões e cheios de preconceitos óbvios. Tenho palpites de que tudo isso começou com o sucesso do CQC. Ok, não é bem um palpite.]

É triste assistir a ruína da MTV Brasil como a conhecemos, mesmo que para muitos de nós isso tenha acontecido anos atrás depois do fim de programas excelentes como Lado B, RIFF e o sensacional Yo! MTV Raps, mas ao mesmo tempo é contagiante ver o rap se reinventar de tempos em tempos e colocar em prática toda essa produção cultural, muitas vezes inclusive se baseando em formatos que a própria MTV ajudou a criar. Talvez por isso não estejamos assim tão tristes pelo fim do canal. A nossa percepção do mundo dando essas voltas malucas nos faz uma espécie de testemunhas oculares com muita sorte. Digo “sorte” porque tudo o que buscávamos apenas na MTV hoje está espalhado no que convencionamos chamar de conteúdo on demmand, relativamente gratuito, mas que certamente nos garantiu um infinito poder de decisão sobre o que é relevante ou não.

Fosse eu um padre tentando confortar os fãs na missa de sétimo dia, diria do jeito mais piegas possível que os restos mortais da MTV foram despejados nos corações e mentes que habitam cada canal do Youtube.
Eu sei, não deveria ser padre.
Via: Medium.com

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