O Caseiro é um duo de rappers goianos. Composto por VH e Dam, o duo trabalha junto desde 2014, período em que tem crescido, somado apresentações em festivais locais e trabalhos de estúdio. Dam Caseiro é integrante do Wu-Kazulo, ascendente na cena. VH agregou cada vez mais significado e peso ao seu vulgo durante o ano passado, com versos recheados de filosofia e conhecimento em todos trabalhos.
Em fevereiro VH lançou sua aguardada mixtape Pele Negra, Máscaras Brancas”. O título é compartilhado com uma obra de Franz Fanon, filósofo do século XX. Enquanto a obra literária trata sobre a descolonização e libertação dos povos oprimidos no século passado, a obra musical trata sobre a luta atual dos negros e marginalizados, expondo a persistência de uma visão eurocentrista.
Esbanjando as referências do promissor MC, a sonoridade e as composições mostram todo o aprendizado dos raps sujos que tomaram o Brasil durante os anos 2000. Deixa claro também a experiência de VH com lo-fi e boombaps classudos, como provado no projeto lo-fisofia do Caseiro. O trabalho remete diretamente ao que fez muita gente se apaixonar pelo rap: dedo na ferida, vivência, conhecimento e um som envolvente.
As faixas foram todas produzidas por Saggaz Beats, desde os ambientados beats, passando por mixagem e masterização. Teve a captação dividida entre Estudio NEO Pub, Estudio WKZL e Estudio Caseiro. Conta também com diversas participações, como Luz Negra, Bergkamp, Coiote K’Ment e A.Jay A.Jhota. Bergkamp Magalhães além de um ótimo verso, contribuiu fazendo a simples e poderosa capa do projeto.
Apesar de “Fogo nos racistas” ser bradado por todos onde quer que Djonga passe, o país segue afundado em racismo velado e estrutural. Apesar de trap festeiro ser o som do momento, o país está repleto de pessoas que precisam autoafirmação, reconhecer o privilegio de outros e ouvir um bom e velho rap com a cara da rua. VH com sua primeira mixtape soprou um ar fresco essencial para a cena, não só regional, nacional. O trabalho bem produzido, coeso e incisivo é simplesmente necessário e fascinante.