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Vulva la revolución! Brisa Flow fala sobre as inspirações de ‘Newen’, seu primeiro álbum

Quem ouve Brisa Flow pela primeira vez tem uma certeza: é impossível ficar indiferente ao trabalho da MC.

Quem ouve Brisa Flow pela primeira vez tem uma certeza: é impossível ficar indiferente ao trabalho da MC. Com sua voz marcante, seu flow envolvente e letras extremamente bem-feitas, ela mostra com “Newen“, seu primeiro trabalho, que não está no rap de brincadeira e, certamente, veio para fazer história no hip hop.

No álbum, ela resgata suas raízes e conta sua história de vida através da perspectiva de uma mulher que é livre em diversos aspectos, como falou em entrevista ao RND. Para a mineira radicada em São Paulo, seus pais são grandes inspirações para seu trabalho desde que ela começou a escrever, ainda na infância.

— As grandes inspirações para mim, que me alimentaram e ajudaram a formar meu senso crítico, que acredito que não está formado ainda porque a gente é ser humano, em constante desconstrução e construção, então estou sempre aprendendo mais, enquanto estiver viva estarei sempre em uma troca. Acredito que as pessoas que mais me inspiraram desde o início, a primeira é minha mãe, que era uma militante, estudante da época do Pinochet e me criou fazendo sempre refletir sobre as questões que estavam acontecendo, me mostrava jornais para eu ter uma opinião sobre. Ao mesmo tempo, fui muito influenciada por ela e meu pai com as músicas que eles tocavam na minha casa, que eram muitas músicas latino-americana de lutas, como Victor Hara, Silvio Rodrigues, Los Jaivas, esses grupos entre outras coisas, como Bob Marley, a gente assistia festivais em VHS, Festival de Vina del mar que tinham grandes referências, com pessoas da política, dos direitos humanos; acredito que comecei a criar minhas primeiras músicas quando comecei a fazer as minhas primeiras poesias e eu cantava elas, nessa época eu tinha uns 12 anos.

Newen, que significa “força” na língua mapudungun, idioma dos Mapuches, povo indígena que habita o centro-sul do Chile e o sudoeste da Argentina, é cheio de pluralidade, fragilidade e sentimento feminino, desta forma, pode ser considerado um grande aliado na luta das mulheres, especialmente considerando que o rap é um meio dominado por homens.

— Eu vejo a mulher no rap como uma resistência. Principalmente as mulheres que estão aí fazendo um trabalho lindo e maravilhoso, bem produzido, bem escrito. Tem muito mais mina foda do que cara, atualmente.

A música de Brisa reflete exatamente quem ela é: uma mulher plural, que luta pelas minas e que, acima de tudo, fala com propriedade porque sabe o que fala.

Quando o assunto é feminismo, a MC não acredita que falte protagonismo de mulheres no hip hop, muito pelo contrário, há minas espalhadas pelo Brasil inteiro protagonizando o movimento.

— São mulheres incríveis, em várias regiões, cantando rap pesado, com unhas pesadas, uma vivência monstra. O que existe é invisibilidade e essa invisibilidade não está só em veículo de comunicação, acontece sempre quando um produtor faz uma festa e não coloca uma mulher.

Envolvida no movimento feminista desde a adolescência, Brisa se aprofundou ainda mais na questão em um momento para lá de especial em sua vida: quando se tornou mãe.

— Aí vi que o barato era louco mesmo! Que a corda arrebentava para o nosso lado mesmo e não tinha como fugir! Aquilo estava dentro de mim. Logo que engravidei, comecei a sentir mais essa questão da mulher, mas eu tive envolvimento com algumas linhas de pensamento feminista quando era nova, quando vivia com a galera punk, hard core e alternativa, umas manas que eram muito mais atitude. Eu sempre curti muito ser desse lado girl power, mas tinham muitas coisas que precisei passar, de perto, no rolê com minas bem diferentes, inclusive dentro do rap, depois que eu resolvi fazer carreira solo e começar a cantar sozinha em BH senti muito esse machismo.

Foi exatamente neste momento que “Newen” começou a ser criado, ela explica.

— As letras, a musicalidade, foram todas inspiradas nesse momento que eu estava vivendo, de me reconectar com meu sagrado feminino, de buscar força na minha ancestralidade e, ao mesmo tempo, como a gente estava vivendo épocas de golpe já, de 2013 para cá, foi uma forma de lincar as referências, de conectar, sincronizar as referências que eu tinha dentro de mim desta questão de gostar de rap porque ele me lembra as referências que eu tenho de música de protesto, me vendo como um veículo de tráfico de informação. Então, com o Newen eu quis fazer essa pluralidade ser possível com essa palavra “Força” porque envolve a força de nós, latinos americanos, lutando contra as opressões, resquícios dos colonizadores até hoje, sendo terceiro mundo, sendo américa latina. Newen também porque é a força da mulher que a gente viver/mudar/lutar todos os dias nesse patriarcado sendo mãe, sendo uma mulher livre sexualmente, sendo alguém que pode falar tanto da sexualidade quanto do amor, então o disco fala dessas forças desse período que eu estava vivendo. Foi assim que eu criei. Selecionei as músicas que achei que faziam parte desse disco porque cheguei a gravar outras músicas durante esse processo, que não saíram. Estou muito feliz com o resultado, muita gente gosta do disco e escuta e fala que tocou de forma diferente, para levar reflexão e, ao mesmo tempo, fazer curtir uma brisa.

O álbum conta com produtores de diversas regiões do Brasil, como Dia, Giant, Gabba, Mr. Break, Gurila Mangani e Johny Martinez, com masterização de Luis Lopes, e é um daqueles trabalhos que precisa ser ouvido pelos amantes do rap nacional, pois é um trabalho completo, viciante e que mostra todo o talento de Brisa, que não para, e já está cheia de novos trabalhos no pente, que serão lançados em breve.

— Estou com projetos de live, contratem meu sonho para assistir, logo mais tem vídeos novos, vai sair clipe, tem participação da Tati Botelho, Camila Rocha com Nego Max, várias outras parcerias para sair. Produzi umas faixas novas. Esse ano quero conseguir mais referências ainda, ter mais liberdade para criar o rap do meu jeito, o meu rap, sem nenhuma limitação, sem nenhum padrão para seguir

Então, já sabe: dá play no “Newen” e deixa no repeat para pegar toda essa visão que só Brisa pode te passar!