Músico, Produtor, Youtuber… Em meio ao agitado cotidiano de um profissional multitarefas, Raí Faustino lançou às 00:00 desta segunda o seu primeiro disco: “Kuro” (que significa “preto” em japonês). A obra conta com 8 faixas e, com exceção das tracks 4 e 7, todos os beats são do próprio Faustino. Mixagem e masterização do CD também são feitas por ele.
Como o próprio artista descreve, o álbum é uma viagem pela sua mente, mas que não deixa de lado algumas abordagens sociais. Falar sobre auto-estima, para ele, é algo indispensável para um jovem negro em meio a uma sociedade hostil e preconceituosa.
Outro detalhe interessante deste CD é que ele foi trabalhado inteiramente em processo de home studio. Como já foi mostrado em um dos seus vídeos, o próprio guarda-roupa de sua casa é usado como “cabine de voz”. Nada que comprometa a qualidade de captação de nenhuma das faixas. De acordo com ele, estas são marcas de um trabalho artesanal, independente, pessoal e feito com raça.
No mesmo dia do lançamento, conversamos com Raí Faustino que falou sobre sua carreira, sobre o CD e os planos para o futuro. Confira a entrevista na íntegra abaixo:
Youtube, CD de rap, Mestrado, Banda Flyde, produção de beats… Como se divide o teu processo criativo, levando em consideração tantos projetos lançados em um tempo razoavelmente curto?
“Sabe, há uns anos atrás eu experimentei a sensação de estar desempregado em casa, sem perspectiva, vendo um dia igual ao outro. Dei um basta e me prometi que em 2017 ia abraçar todas as oportunidades de realizar projetos e concretizar sonhos que aparecessem na minha frente. Talvez eu tenha exagerado um pouco (risos). A parte acadêmica tem mais a ver com engenharia, que foi minha formação, devo concluir o mestrado ano que vem se der tudo certo. Além disso, trampo numa startup com marketing digital e experiência do cliente. Pra lidar com tudo isso eu tenho meio que particionar minha dedicação sabe? Tentei fazer um pedaço de cada num dia só e vi que não tava fluindo. Aí tem uma semana que eu mato tudo do curso, na outra, foco em fazer vídeo, na outra componho/gravo, etc… Se eu não mergulhar numa coisa só por vez e focar, não vai pra frente.”
Qual é teu nível de satisfação como músico? Porque, como youtuber, não foram poucos artistas renomados que já mandaram um salve e declararam que acompanham o teu trampo, né?
“Ah, o salve dos artistas renomados é gratificante demais. Rodrigo Ogi, Djonga, Rashid, Rincon Sapiência, Don Cesão, entre outros, já sacaram meus vídeos e vieram me dar uma força, isso realmente não tem preço. Sobre minha atuação na música de fato, hoje me enxergo fazendo a música que quero do jeito que quero. Além dos raps que faço sozinho, tenho minha banda, a Flyde, fazemos um metal bem pesado, que é um estilo que fez parte da minha formação também. Nunca me enxerguei vivendo DE música, mas sinto que preciso viver A música de algum jeito. Senão jamais me sentiria completo.”
Sobre “Kuro”: Qual foi teu objetivo central com esse trabalho? Em uma recente postagem no teu facebook, tu citou o verso do Coruja BC1 em “Modo F” que diz: “Minha auto-estima é equivalente ao dólar, que até em tempo de crise consegue se manter em alta”. Na oportunidade, tu disse que gostava muito do verso, mas não poderia dizer que esta era uma realidade na tua vida, devido a uma série de fatores. Como foi trabalhada a questão da autoestima, no teu CD?
“Esse CD nasceu de uma maneira muito natural, porque as letras são muito verdadeiras. Minha auto-estima não tem a resiliência que eu gostaria, me sinto realmente como numa montanha-russa às vezes. Ao ver o conjunto de músicas que eu tinha pro CD, naturalmente vi que era tipo metade ego lá em cima, metade ego lá em baixo, sabe? Eu não calculei isso. Simplesmente aconteceu. Aí eu comecei a montar o quebra-cabeça, e o que temos no disco é justamente essa oscilação entre faixas reflexivas e auto-afirmativas. “Alumínio”, meio pra baixo, “Planinauta”, totalmente o contrário, “Plataforma” mais uma vez reflexiva, “Saitama Preto”, incentivando auto-estima em mim e em meus irmãos, e por aí vai… Ouvindo o CD dá pra sentir isso. A ordem das faixas mostra o que sou.”
Quais são os projetos para o futuro? Onde tu, Raí, pretende chegar na música e na trajetória profissional que envolve o rap?
“Daqui pra frente eu quero voltar a fazer meus vídeos “normais”, hehehe! Eu parei tudo pra poder me dedicar ao CD, foi necessário senão eu não terminava nunca. Mas com certeza continuarei escrevendo e fazendo beats no tempo livre. Recentemente tive uma epifania ao ouvir o “Kuro”, o disco me contou que ele é a primeira parte de um trampo maior. Acho que vou ouvir os conselhos dele… Quem sabe o que 2018 nos reserva. Salve para todos os leitores do RND, valeu pela oportunidade, vão ouvir o trampo que tá massa!”
Confira o CD de Raí Faustino – Kuro – (Álbum completo):