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Até onde o Rap e a cultura Hip Hop podem e devem chegar?

Essa pergunta me veio a cabeça em meio a discussões sobre o Criolo e o festival Lolapalooza que surgiram durante essa semana. Existe contradição em pregar a igualdade social e participar de um evento de enorme proporção de ingresso com preço caro?

Há muitos anos atrás o Rap invadiu casas, apartamentos, canais de televisão e se consolidou como uma das principais manifestações culturais no Brasil. Mostrar a realidade vivida por cada MC virou a marca registrada do estilo, levando mensagens de conscientização, informação e críticas sociais dos tantos problemas existentes em bairros e comunidades pobres.

Criolo é um dos tantos rappers que fazia e continua fazendo isso. Mesmo em total ascensão no cenário musical brasileiro, não deixa de direcionar suas letras e versos a questões como desigualdade social, preconceitos e reflexões sobre a falta de amor ao próximo.

O conteúdo de suas músicas, embora menos agressivo do que antigamente, não deixa de expressar o que inúmeros outros MC’s expressam. A questão é: Falar sobre desigualdade social deve ser uma barreira para levar suas ideias para um público mais abastado?

Afinal, como podemos definir o público do Rap? Será que ele é o mesmo de trinta ou quinze anos atrás? Assim como se popularizou, de alguns anos para cá, o Rap de um certo modo se tornou também mais “pop”. Essa mudança atraiu um público que até tempo atrás sequer ouvia ou conhecia o estilo.

Criolo é versátil, agrada tanto aos fãs mais críticos e antigos do Rap quanto aos novos. É notável a sua mudança musical. De produções mais simples, peso no flow, à produções e shows com direito a banda, levada mais suave e cada vez mais “abrasileirada”. Esse novo Criolo conquistou o Brasil e a cada novo discurso ele quebra paradigmas e vícios da sociedade. Sua notoriedade lhe rendeu um convite para participar do evento Lolapalooza, um dos maiores da América latina.

Um evento que contará com a participação de grupos renomados como Metallica, Duran Duran, Strokes, Rancid, The WeekendXXX, Jimmy Eat World e possui ingressos a partir de 417 reais (por dia). Criolo será o principal e mais conhecido artista brasileiro a cantar junto com outras 46 atrações frente a um público superior a 130 mil pessoas. Levar o Rap para um público diferente é contraditório? Expandir seu público faz torná-lo “vendido”? Existem limites para o Rap?

Manter a sua essência e originalidade é primordial para que a cultura não se perca em modismos e valores fúteis (como alguns MC’s infelizmente fazem). Levar conteúdo, mensagens positivas e mostrar o seu lado a quem quer que seja é errado? É errado viver da sua música ou o Rap deve sobreviver apenas em shows por dez reais e restrito ao antigo público?

Tendo compromisso com a sua verdade e com o que aprendeu e aprende, Criolo deve se recusar a cantar em um evento de tamanha proporção apenas pelo fato de custar caro?

Já vimos debates com o mesmo teor envolvendo Racionais e MV Bill. A pergunta é: Como pessoas irão entender o outro lado da moeda sem ao menos escutá-lo para poder de fato entendê-la? Devemos impôr muros aos artistas para que levem suas mensagens a quem quiser ouvir?

Criolo e seu fiel escudeiro perfomando no Lollapalooza

A minha resposta é apenas uma: o mundo não mudará enquanto não pararmos e ouvirmos o outro lado. “Que a minha música possa te levar amor”, já disse Criolo.