Não conhecia o Elo da Corrente até o Cruz e confesso que o que me convenceu a escutar o disco foi a capa. E fui feliz em julgar o disco pela capa. Já em minha primeira viagem junto ao álbum, me impressionei com a qualidade do trabalho e o quanto ele toca o ouvinte. Ao procurar os outros dois trabalhos do Elo, fiquei igualmente impressionado: os caras realmente colocam sentimento em cada faixa, dando um teor único a elas, mas isso não evita a integração genial e orgânica entre as faixas do álbum.
Como notei posteriormente, todos os trampos do Elo giram em torno do tema proposto no título do álbum e são recheados de auto-referências, sempre muito bem encaixadas e dando a entender que embora o som do grupo esteja se renovando a cada dia, a ideologia se mantem mesmo após mais de 14 anos na pista (e isso é ótimo).
Com poucos samples e refrões aparentemente compostos e gravados para o álbum, a produção do disco é impecável e se integra muito bem aos vocais e ao projeto do álbum, que contou com mais de 20 profissionais envolvidos, além de Caio, PG e Pitzan.
Nem sempre se vê trabalhos onde a base seja mais do que algo para o MC versar em cima e isso deve ser valorizado. Também temos instrumentais bem trabalhados, fugindo do lugar comum que se vê em muitas produções do rap. Além disso, os refrãos são bem compostos e executados e os poucos recortes são bem colocados nas faixas.
Ainda na pegada do instrumental, a música-título, Cruz, é digna de destaque: composição deliciosa de se ouvir (e viajar ouvindo). Ouso dizer que tem um dos refrãos mais bonitos já compostos no nosso rap, além da excelente letra. De longe, a melhor faixa do álbum.
As letras são de um nível bom, evitando versos brancos e rimas manjadas. Sempre reflexivas, as temáticas mais variadas são abordadas no disco, a maioria em torno de temas pessoais (não dos mc’s especificamente, mas pessoais que se apliquem à pessoa que ouve, não a um todo) e densos, mas que são conduzidos com serenidade. A métrica, o flow e o delivery são impecáveis.
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