Introdução
Esse vai ser meu primeiro texto no RND redigido em primeira pessoa. Optei por esse formato pois não queria ser imparcial, nesse texto vou passar por completo a minha visão pessoal sobre o projeto desse artista. Por vários motivos decidi fazer diferente, mas o principal é que esse projeto me toca tanto que não existia a possibilidade de ser passivo ao dissertar sobre a obra. Então as palavras a seguir são exclusivamente de Carlos Henrique sobre o álbum “Demônio da Maquina de Costura” do rapper Teagacê.
Algo Breve Sobre o Rap Nacional Atualmente
A anos que o rap nacional não tem sido a minha preferencia na hora de adicionar raps em playlists, tocar no carro ou numa festa. O nivel de saturação do “mainstream” daqui é de longe deprimente; e não digo de nenhum estilo especifico, parece que toda vertente de rap nacional satura de péssimos e limitados rappers, muitos desses atraídos pela facilidade de fazer rap (sim, eu disse isso) atualmente.
Mas dou graças ao universo que existe uma grande quantidade de artistas bons no underground (favor não achar que eu quero que esses artistas permaneçam no under para sempre); artistas que AINDA não tem a visibilidade que merecem. Talvez, por não terem aquele apoio financeiro, ou ate mesmo por ter um som diferenciado demais em um gênero em que o publico, na maior parte das vezes, não gosta ou não procura ouvir o que esta fora da curva.
Introduzido meu descontentamento, agora falo de um artista que me motiva a sorrir ao abrir meu spotify: Teagacê;
Demônio Da Maquina De Costura
Provavelmente um dos rappers brasileiros com mais sons lançados em relação ao seu tempo de carreira. E não estou falando de versos soltos e esquecíveis em qualquer cypher por ai, estou falando de musicas completas. Obviamente nem todas, das centenas de seu canal me agradaram, mas certamente foram poucas. Mas o diferencial desse artista de Natal, Rio Grande do Norte, não é seu grande esforço e sim sua musicalidade.
Teagacê faz algo que poucos rappers conseguem fazer em seus versos: criar cenários na sua cabeça. Ao ouvir seus sons, falando sobre seus amores e vivencias, nos teletransportamos para o local, é como se estivéssemos como primeira pessoa na historia contada, e particularmente isso me atrai demais. Um storytelling (a nível pessoal do rapper) que só Don L já me marcou antes.
Na semana passada, Teagacê soltou seu primeiro álbum oficialmente; “Demônio da Maquina de Costura” possui 9 precisas faixas, seguindo uma certa tendencia de álbuns menores e mais diretos, e como hoje posso dar minha opinião, prefiro álbuns nesse estilo.
A voz aguda, cantada e marcante de Teagacê domina o álbum inteiro, sendo interrompida apenas por interludes e um verso preciso de Doggie Killa na sexta faixa do álbum. Um projeto de faixas inéditas, tirando a ultima, a ja bem conhecida “Road Trip” que pode se dizer, que é a faixa solo mais conhecida do rapper.
O album reúne tudo de bom que Teagacê já fez em sons anteriores, porem de uma maneira mais maestral, certeira e madura. Confesso que conheço o som desse artista a pouco menos de um ano, mas me encontrei e identifiquei com tantas passagens que é algo como ouvir a muitos e muitos anos. Resumindo bem, o projeto conta com a presença constante de uma musa inspiradora, alusão a drogas, uma violência poética e uma descrição exata da vida boemia do interlocutor; tudo isso espalhado pelas faixas, todas com esse alto nível de imersão.
Poderia passar mais algum tempo falando sobre o álbum (e na verdade vou) mas resolvi escolher minhas 3 faixas preferidas do projeto e passar a minha visão sobre cada uma; de modo que você, lendo isso se interesse a ouvir o álbum todo e ter essa experiencia, que é esse projeto.
40 graus (prod. Aksil beats)
Essa é a faixa que da inicio ao álbum e na minha opinião a segunda mais brutal do mesmo. Teagacê disserta sobre a vida marginal, a correria diária e as motivações de fazer rap. Temas muito abordados no rap, porém a maneira que isso é retratado nos versos é forte demais. Junto a cadencia marcada das suas linhas um beat incrível de Aksil Beats se mistura e o interlúdio da mãe de Teagacê montam uma faixa Intro certeira.
Anestesia (prod. Beatowski)
Esse som é um dos meus preferidos de 2019. Tenho uma enorme queda por sons sobre relacionamentos, sejam eles felizes ou tristes, porém convenhamos que existem muitos sons desse tipo, porém a maneira do interlocutor de contar essa historia me pega. Teagacê fala sobre um relacionamento, provavelmente, não muito saudável, com um grande foco no consumo de drogas, ate mesmo no nome da faixa. Com os versos direcionados a uma musa, sentimos nesses versos prazer, dor, amor, ódio e até mesmo uma pitada de insanidade. Esse som é explicito, e é visceral, os versos machucam ao mesmo tempo que nos fazem ansiar por um amor marginal (Nem que seja apenas por experiencia).
Eu Sangro (prod. Diego Garza)
Provavelmente o som mais emocionante do álbum. Linhas sinceras e ate mesmo sofridas. Uma conversa direto com deus sobre uma vida dura e questionamentos existenciais. A voz de Teagacê nessa faixa marca demais, num refrão cantado e em versos mais lentos que o normal, o som corre por nossos ouvidos até a epiderme. E como eu queria mais sons assim, que arrepiam e tocam, mesmo com poucas linhas.
Bem, tenho muito a dizer sobre esse álbum, porém também não quero dizer tanto em uma simples matéria. Quero que você, que esta lendo isso, tire 25 minutos do seu tempo, apenas 25, para ouvir essa obra. É um projeto único, orgânico e sincero, e como síndrome de Estocolmo os versos desse album vão te aprisionar e você vai amar estar com eles. Ouça “Demônio da Maquina de Costura” e ouça também tudo que Teagacê tem para nos presentear.