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Ouça ‘Do Pó Ao Que Pode Ser Milagre’, novo álbum de FRAJ & ARIT

No último dia 28, chegou as ruas o disco ‘Do Pó Ao Que Pode Ser Milagre‘, primeiro projeto oficial da dupla catarinense FRAJ & ARIT, duas semanas após a disponibilização de ‘Fulgores‘, primeiro lançamento da dupla, no dia 14 de agosto. O álbum conta com nove faixas e é marcado por uma grande qualidade lírica e sonora, trazendo um forte intimismo que se faz presente desde as letras de FRAJ até as batidas de ARIT.

Gabriel Fraj, um dos mais expressivos nomes da cena catarinense e do underground brasileiro, com uma escrita que beira páginas de um livro de realismo mágico e um flow único – seja com a presença do autotune ou sem -, é conhecido por seu trabalho com Beli Remour, sob as alcunhas de Admirável Mundo de Dionísio e também Kodak Ninja & Urso em Mandarim – disponível no canal da Polvo Roxo Records.

Thiago Arit, MC e beatmaker, um dos produtores mais importantes para o lo-fi, responsável por alguns dos samples mais quentes de anos anteriores, lançou em 2017 seu primeiro EP, ‘Safra Épica‘, junto a um livro digital. Em 2019, ARIT lançou, junto a GÁBE, o EP Visual ‘Os Três Continentes de um SoundCloud‘, e é justamente no SoundCloud onde está a maior parte do conteúdo do artista, que conta com poucos singles lançados, ainda que tendo feito inúmeras participações. Recentemente, ARIT esteve no álbum ‘Gigantes‘, de BK, onde produziu a faixa ‘Planos‘ e também assinou uma participação com H∆KU e Lessa Gustavo, a faixa ‘Janeiro‘.

Com pouco mais de um ano entre a primeira faixa e o processo de masterização, houveram importantes interrupções e mudanças que acabaram por confundir vida e obra de Gabriel e Thiago, justificando um disco tão intimo e pessoal, como uma necessidade, fazendo com que FRAJ pareça escrever ainda mais com a jugular exposta na vitrine. O álbum marca o retorno do MC ao jogo, após se manter afastado por cerca de dois anos, com aparições pontuais como a faixa ‘Só eu Sei, com Beli Remour e o EP ‘Epitáfio‘, com Nnay Beats.

A formação do projeto se dá de maneira mais voltada ao rap, desde a confecção das letras – um pouco menos herméticas do que de costume – até as batidas, onde ARIT explora diversos BPM’s e passa por vários gêneros/subgêneros, sem perder suas características próprias, seja o instrumental sampleado ou tocado. O disco não conta com uma unidade estética que o conecte como um todo, é FRAJ quem une as faixas através das imagens que evoca, trazendo assim uma sensação maior de harmonia.

‘Do Pó Ao Que Pode Ser Milagre’ – capa por Laisa Helena

Do Pó Ao Que Pode Ser Milagre‘ trata do momento onde o primeiro e o último capítulo se conversam e se faz necessário uma perspectiva diferente, representando uma nova fase na carreira tanto de FRAJ quanto de ARIT, ambas tão marcadas por mudanças estéticas, seja por uma renovação artística ou exigências da vida. Vida e morte permeiam o projeto junto a outras dualidades, como a força dialética entre luz e sombra, céu e inferno, fraqueza e força, que ao invés de se anularem apresentam uma relação de dependência e culminam em algo maior, a partir do conflito.

O disco é marcado pela busca, o percorrer de uma trajetória a procura de si mesmo, encarando cada espelho do labirinto com pedras na mão, atravessando tempestades com os pés fincados em meio a terra firme, como quem sobreviveu a naufrágios. FRAJ escreve sem esclarecer se por gosto ou inquietude mas evidenciando a necessidade desse processo, onde o artista assume uma nova forma, entre o sangue e o garrancho, carregando marcas que, a essa altura, se mostram permanentes para a vida inteira.

Escrevo por não ter nada a fazer no mundo: sobrei e não há lugar para mim na terra dos homens. Escrevo porque sou um desesperado e estou cansado, não suporto mais a rotina de me ser e se não fosse a sempre novidade que é escrever, eu me morreria simbolicamente todos os dias. Mas preparado estou para sair discretamente pela saída da porta dos fundos. Experimentei quase tudo, inclusive a paixão e o seu desespero. E agora só quereria ter o que eu tivesse sido e não fui.

Clarice Lispector em ‘A Hora Da Estrela’

Como todo coração que um dia para, a vida pulsa e assim o álbum prossegue, entre memórias e profecias, em algum lugar entre o espaço que sobra das mudanças. FRAJ traz a tona imagens anteriormente citadas, bem como o bater de cabeça nas paredes que não cedem ou sua existência no canto da sala, que, se um dia representava o vazio, hoje permite um certo bailar – independente do ritmo. Contrastes e dualidades também se mostram no Verso de ARIT no disco, na faixa ‘Primeiro & Último Capítulo‘, onde há contraposição entre Thiago e Arit fornecendo a possibilidade de andar leve e carregado, andar as escuras mas dar luz a uma nova vida, a partir da soma de dois seres que pode culminar em uma ligação intima e profunda, bem como um um terceiro, sendo onde primeiro e último capítulo se conversam.

Com mix pelo próprio ARIT, a masterização do projeto ficou por conta de beiço da bld pela Fábrica 612, enquanto os vídeos foram feitos por Nnay Beats. O disco está disponível no YouTube pelo canal da VESÚVIO e também no Spotify.

Em relação a próximos lançamentos, FRAJ & ARIT trabalham em um novo disco, com previsão para chegar as ruas no inicio de 2021, além de seus projetos solo, onde ARIT promete ainda mais dois lançamentos para este ano, o EP ‘que Colina‘, com beiço da bld e William Luís, e o álbum ‘MOSC‘, com Nnay Beats, todos projetos vinculados pelo selo VESÚVIO.