“Jazz em Macondo” é o primeiro lançamento “solo” de Alice Piink, produtor musical e engenheiro de áudio da zona norte de São Paulo. Contando com participações de nabru e Graça nos versos, Piink pinta um cenário bastante claro. Suas escolhas de produção e texturização levam a obra a beirar o status de experiência visual, trazendo sonoridades muito “palpáveis”, e reproduz uma estética pouco explorada na ampla gama de vertentes do Rap nacional: o “falso” ao vivo.
Os timbres orgânicos, as levadas da bateria – estilo Jazz Rap/Boombap clássico (naipe Digable Planets ou Tribe) na primeira parte do instrumental e Jazz clássico na parte final -, o swing do piano e mais tarde do órgão, e a linha de baixo marcante, compõem uma banda imaginária de alta qualidade, que no fim não passa de uma boa seleção e execução de elementos feita pelo produtor.
Quanto as vozes, ambas foram captadas por Graça, em sua casa, no estilo de gravação convencional de estúdio, no entanto, o tratamento dado à elas por Piink somado a ausência de vozes adicionais (dobras) deixa transparente a intenção de representar um trecho de performance ao vivo. Para detalhar ainda mais o trabalho minucioso de ambientação, Piink encaixa samples que simulam uma platéia e dá ainda mais cor ao quadro.
Em relação ao conteúdo lírico da faixa, nabru dá o ponta-pé inicial descrevendo as contradições do cotidiano de uma jovem negra no Brasil e do cerceamento da liberdade no sistema capitalista. Graça encerra a música com um verso esteticamente bastante diferente, mas que acaba
tratando de questões intimamente relacionadas as que a mc mineira traz à mesa, e propõe uma resposta radical e revolucionária ao cenário político e social que se apresenta na conjuntura atual.
A identidade visual da faixa foi criada pela artista visual Myrella, que assim como Alice Piink e Graça, integra o selo e coletivo de artistas “Organdi“. “Jazz em Macondo” é um prelúdio do que está por vir na estrada de Alice Piink, que em Julho apresentará seu primeiro EP.
Confira o single de Alice Piink:
