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A grandiosa imersão no novo álbum do Rap Plus Size

O duo formado por Sara Donato e Jupi77er em 2016 definitivamente não é mais o mesmo. Desde então a abordagem do discurso evoluiu, ao mesmo passo que a técnica de escrita de ambos integrantes deu um salto gigante e o mesmo podemos dizer sobre a produção, agora assinada exclusivamente por Vibox.

A pauta do amor próprio ainda está lá, mas agora vem acompanhada de temas como racismo, violência policial e transfobia, por exemplo. O Rap Plus Size cresceu, e isso não é trocadilho. A dupla cresceu enquanto artistas, não são mais apenas rappers, a experiência de ouvir RPS foi elevada a um nível totalmente novo.

A Grandiosa Imersão em Busca do Mundo Novo” é uma obra megalomaníaca, grandiosa no mais puro sentido da palavra. Nada está lá por acaso: cada faixa, cada feat, cada título e ordem da tracklist, até mesmo a produção que contou com a masterização da Malka (Trava Bizness).

Todo o conceito gira em torno da vida marinha e cada faixa é um mergulho que leva o ouvinte cada vez mais pro fundo. É um misto de emoções que vem à tona, algumas você nem sabia que era possível ter ouvindo um álbum de rap.

A primeira música pós intro, a PIPELINE (zona de ondas violentas no Havaí), já chega socando os fones com um refrão forte e abordando um assunto extremamente em alta: a polícia. Em tempos onde as autoridades de grandes capitais, como a do Rio de Janeiro, recebem carta branca para abusar do poder, essa música se faz mais que necessária. E o feat não fica pra trás, Djonga encerra a faixa mantendo o alto nível da mesma com linhas inteligentes, como sempre.

QUEBRA MENTAL e FÔLEGO sequenciam pautando a sanidade mental e o autodescobrimento respectivamente. É preciso fôlego para mergulhar em si mesmo, respirar e se cuidar. ESPELHO é a primeira faixa a falar exclusivamente sobre a transfobia, assunto que muitos fãs esperavam ouvir no disco após a transição do Jupi77er, e o feat não podia ser melhor: Danna Lisboa representa muito nos versos, nos levando à uma reflexão profunda sobre diversidade. Sara Donato também dá seu nome indo na contramão da normatividade.

Em seguida vem BALEIA, possivelmente a faixa que fez chorar todes que ouviram o álbum com atenção. A música traz de uma forma muito sincera um desabafo honesto do RPS sobre o corpo gordo e autoaceitação, ao mesmo tempo que o duo versa sobre a importância de se enxergar em alguém. Os áudios dos fãs no final (com uns bons 3 minutos de duração) fecham com chave de ouro, impossível não sentir o peso e importância da dupla a cada relato ali registrado. CARDUME é a faixa que completa BALEIA, afirmando que você, corpo oprimido, não está só. A banda curitibana Mulamba soma muito na obra, é talvez uma das melhores combinações do álbum inteiro.

Depois, indo ainda mais fundo, SUBMARINO é uma surra anti estado. Ao lado de PIPELINE, essa faixa vai na contramão do governo e traz um refrão tão pesado quanto. E, mais uma vez, Monna Brutal simplesmente rouba a cena. É simplesmente incrível o que essa mulher faz com as palavras, possivelmente dona do flow mais pesado do cenário nacional atual. ABISSAL começa a fechar o disco com um clima de autodescoberta, de renovação: “É na escuridão que se encontra a luz própria“.

NASCENTE é genial! Você já deve ter ouvido várias músicas SOBRE rap, mas garanto que nenhuma tem um conceito tão bem fechado quanto essa: “O hip-hop é nascente, cê sente fluir“. Os convidados são dois nomes gigantes do rap nacional, principalmente do rap de SP: Cris SNJ e Kamau. Ambos com muita história pra contar nos versos, e você sente isso a cada linha. Kamau dizendo que “Eu sou H-I-P-H-O-P e só não posso parar de fluir” é impagável apenas.

A última faixa do álbum é um instrumental produzido por Vibox e Malka, os dois principais nomes da produção do disco. Nele você tem a liberdade de fazer o que quiser, inclusive gravar algo em cima e mandar para o Rap Plus Size no email.

A Grandiosa Imersão em Busca do Novo Mundo é um álbum rico em detalhes, conceito, delicadeza e sinceridade. Eu, como fã da dupla, não esperava algo tão grande e fico feliz por ter errado. É um disco que precisa ser ouvido várias vezes, com muita calma e atenção. É preciso se atentar aos pormenores mais minuciosos para ter um aproveitamento maior, caso contrário nem ouça.