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SubVerso, sinônimo revolução

O grupo ouro pretano SubVerso lançou nesta última quinta-feira (30/05) o clipe da faixa Interior. Formado por Alves AXV, Deew e Nefer7iti, dois MC’s e uma DJ respectivamente, o coletivo tem como objetivo a mistura do boombap e do trap. Com flow e letras bem lapidadas, eles expressam o caráter reflexivo e revolucionário da mensagem de seu rap. Os jovens são nascidos em Ouro Preto/MG, fato e característica que ficam perceptíveis tanto no vídeo clipe, com a bela paisagem da cidade, quanto nos versos cantados. No momento atual em que uma parte ignorante da sociedade quer a destruição da nossa cultura, é importante olhar também para as pessoas que estão fazendo a arte acontecer ao nosso redor. É mais bacana ainda quando o estímulo a cultura acontece desde a educação.

Alves AXV e Deew

O clipe é resultado da premiação do 1° lugar no IFestival 2018, realizado no Instituto Federal de Minas Gerais – Campus Ouro Preto. O IFestival tem um simbolismo muito bonito, pois busca alavancar a cultura dentro e fora do espaço do instituto. Ao menos uma pessoa que estudasse no IF era preciso para que fizesse a inscrição no festival, que ocorre anualmente. A iniciativa demonstra consciência de que a arte, nesse caso a música, é de extrema importância e necessidade de qualquer ser humano. O festival é realizado pelo projeto Transvê Poesias, com apoio da Dinâmica Comunicação Visual, IFMG campus Ouro Preto e comissão organizadora.

Esse clipe é a prova do tipo de “balbúrdia” que os estudantes federais e trabalhadores andam fazendo por esse Brasil. Com os recentes cortes na área da educação pública, nós estudantes e comunidade vemos os nossos direitos sendo retirados de forma a prejudicar nossa formação como artistas e cidadãos. Em Ouro Preto, Mariana e João Monlevade acontece anualmente o Festival de Inverno, reconhecido em todo Brasil pela valorização a todo tipo de arte feita. Devido aos recentes cortes já mencionados, o festival também sofre com a falta de verba necessária. Mesmo com todas as dificuldades, a arte é resiste. Através de uma nota aberta a comunidade, a equipe do festival reiterou seu apoio a cultura e aos artistas locais, juntamente com a confirmação de que o Festival de Inverno 2019 vai acontecer. Desgovernos como o que temos no Brasil tem aversão a educação, a cultura, as lutas sociais, ao povo. Mas esse mesmo povo tende a resistir, da maneira que consegue, da forma que for. O Subverso é uma junção disso tudo também, um grupo com sede de luta, de revolução, que demonstra tudo isso em sua própria caminhada.

Jainara Silva, a DJ Nefer7iti, é também dançarina de hip hop freestyle, apaixonada pela cultura e pela música, o que a levou a despertar o interesse pelo trabalho nas pick-ups. “X dj é um pilar importantíssimo nessa cultura e tendo contato com amigos que são, principalmente o DJ Pátrida, me despertou esse interesse de além de estar na pista dançando, fazer as pessoas dançarem e sentirem o quão é incrível. Adquiri conhecimento e botei a cara. Sendo mulher, preta e periférica é muito importante minha presença numa cena que ainda, na maior parte, é dominada por homens. Símbolo de resistência e a ideia é mostrar o potencial que mulheres como eu temos, já que somos tão subestimadas, de ser referência e representatividade”, conta a DJ.

DJ Nefer7iti

Deew, vulgo de David Costa Matias, também fala sobre como é estar e ser um artista interiorano: “para os artistas de fora é uma honra vim cantar aqui, e concordo plenamente, é muita historia, muita cultura, mas será que acabou? será que não tem mais arte? artistas pra ta junto dessa galera nos palcos quando tem evento grande? o que vem de fora é legal, mas é como a musica mesmo diz: ‘Do interior pra fora’, valorizar o que vem de dentro, a expansão sempre é assim, dentro pra fora, não ao contrário, interior tanto de cidade, quanto interior da gente mesmo.” Os artistas locais na região tem uma certa valorização, mas ainda é algo que pode crescer mais. Na verdade está em crescente, e os responsáveis por isso são artistas como esses que estão colocando o trampo na rua, com uma linguagem acessível, querendo conversar com os seus.

Papeando sobre o a música em si, Interior é um papo reto, sem curva, nos ouvidos dos que querem ouvir. A batida do boombap com samples do disco Coisas do compositor, arranjador, maestro e multi-instrumentista Moacir Santos constrói todo o ambiente melódico e de ideias que vão ser colocadas em cima do beat. Deew e Alves AXV são jovens promissores com uma levada lirica, mensagens de luta e raízes. Deew inclusive já tem trampos solo na rua, clique aqui e veja. Apesar de carregar um sample bastante sofisticado, a batida tradicional do boombap ajuda a deixar a faixa mais suja, com o cheiro das vielas e becos citados na música. O instrumental feito pelo grande profissional e músico mineiro Edson Zaaca, que foi quem deu a ideia de samplear Moacir Santos, é de uma beleza formidável, casando muito bem com o flow dos mc’s. A letra é muito bem lapidada, falando de rap, vida, correria, motivação, verdade e sobre toda vivência nas ruas de Ouro Preto e região.

Original subversivo, não importa em qual esquina
Sempre traficando rima, honro e visto essa camisa
Se o papo é visão de cria, não parcelo, passo A vista
Passa visão de quebrada, carrego meu Ouro Gueto
Em cada verso e batida, esquina, viela e beco

A capitação e gravação de áudio foram feitas no Estúdio do próprio Edson Zaaca chamando Lab. Áudio Na Passagem, que também ficou por conta da mix/ masterização. O estúdio é de altíssima qualidade e fica em Passagem de Mariana, distrito da cidade que fica entre Mariana e Ouro Preto. A produção é muito bem feita e não poderia ser menos já que contou com a mão na massa desses grandes artistas e profissionais.

A inspiração, carece da solidão
Então, deixe-me só pra eu grita
Pra esse mundão

Alves AVI, de nome Vanderson Corrêa Alves, também falou sobre como vê a sua ancestralidade dentro do seu rap: “eu enxergo como uma forma de resistência, revolução, que desde antigamente já tinha essa pegada, já acompanha todo negro em si, se for parar pra pensar. Só que ela foi se adequando conforme o tempo até chegar nessa forma que é o rap. Então, eu acho que além de cada um que faz rap, seja mais antigo ou mais novo, carrega dentro de si isso, uma responsa de fazer revolução, de fazer o que é certo pela cultura, que com certeza surgiu pra dar voz que faltava para o povo negro e de periferia.” O Mc salienta que é necessário não esquecer das raízes, do começo, pois antes do rap, teve o samba, o blues, o jazz, a capoeira, que tinham o mesmo propósito, mas com outros formatos.

Conhecer artistas novos é uma ação revigorante, ainda mais quando percebemos que existem grandes artistas ao nosso redor, pela nossa região. A valorização da nossa cultura local é um aprendizado, é como um trabalho de base. É de suma importância que busquemos conhecer e fazer ver o que está sendo feito pelos nossos conterrâneos. Subverso é rap dos inconfidentes, fruto da diáspora, da mistura, do interior. Muitas matérias sairão sobre os diversos raps feitos pelo Brasil, principalmente o que está se passando aqui pelos lados das Minas Gerais.

Veja o clipe logo abaixo: