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Essa não é uma postagem sobre rap que é sobre rap

Eu estava caminhando esses dias, de repente um refrão veio na minha cabeça, e então um verso. Eu comecei a cantar na minha mente, e os instrumentais também. De repente, eu comecei a bolar um conceito todo chamado Crítica Social Pornográfica Romântica Interior. E eu não entendo quase nada sobre teoria musical, ou partes mais técnicas… Mas, o conceito a ideia e tudo ficou gravado, guiado pelas emoções e por algo maior.

Sempre me disseram que nós devíamos ser guiados pela mente, e não pelas emoções, só que acho isso quase impossível. A nossa mente no fim das contas serve apenas como um condutor para os sentimentos. Eu vejo o ódio tomando conta de pessoas, misturado com medo. Pastores agindo como dragões cuspindo fogo usando ”aberração” para descrever homens que amam outros homens ou mulheres que amam outras mulheres, que no fim gera um medo em membros dessa igreja.

Máscaras e armaduras de masculinidade e virilidade que pais passam de geração a geração, que no fim envia crianças e eles mesmos à depressões profundas e suicidas. O ódio que uma pessoa idosa branca sente ao ver sua filha namorando um homem negro, praticando o extermínio de homens negros inocentes, usando um privilégio e posição de poder para praticar seu ódio. Parentes espancando sua filha por ser trans, e consequentemente gerando mais medo e insegurança nela cada vez que rejeitam sua verdadeira identidade ou usam um pronome errado para acabar com sua autoestima.

A histeria vinda de dois homens, ou duas mulheres, adotarem uma criança ou um branco e um negro se casarem, vai acabar com a tal ordem tradicional de família que na realidade não existe. Pessoas dizendo que um cristão e um muçulmano se casando vai trazer o fim da civilização. Tantos outros exemplos, gerado por medo, ódio, angústia, paranoia e outros sentimentos destrutivos.

Apenas um álbum…

Eu também vejo o amor, pais aceitando seus filhos como são. Mulheres e homens brancos que passaram sua vida cegos por um racismo que foi passado estruturalmente reconhecendo seus erros, se esforçando para mudar. Pessoas se acolhendo para tentar se redimir de erros e pensamentos atrasados, ajudando a desenvolver uma confiança e autoestima. Gente aprendendo a ouvir umas as outras. Pessoas de religiões diferentes dialogando, criando uma ponte para paz e não para a guerra. Pessoas deixando de falar demais, e só dando espaço pro outro fazer isso… Pessoas se libertando de amarras e caixinhas para se expressar como realmente são. Sorrindo, é belo…

Me perguntam se eu acho o mundo um lugar colorido, ou um lugar desolado e horrível… Eu acho que é tudo cinza, com pitadas de cor aqui e ali… Meio que como a Lista de Schindler, com a menina de vermelho. E a gente tem a oportunidade de fazer essas cores se expandirem, para as pessoas ao redor ou não.

Eu me lembro da tarde que ouvi pela primeira vez o The College Dropout do Kanye, nunca tinha prestado muita atenção no hip-hop em geral, ouvia casualmente aqui e ali, mas não passava de um gênero igual a todos os outros. Então o disco começou, e tinha um senso de humor ali, as esquetes e tudo, a primeira música We Don’t Care tocou, e logo algo me chamou a atenção… Era uma faixa sobre tráfico de drogas, mas tinha uma personalidade ali, um senso de humor, uma sátira… Até cruzava a linha algumas vezes usando vocais de criança pra cantar aquelas letras… As próximas esquetes e faixas vieram, eu estava preso ao disco.

Aquela hora passou rápido, e quando terminei fiquei revisitando minhas faixas favoritas de hora em hora. Talvez fosse o senso de humor junto com o tema social do disco, ou as batidas que misturavam tantos elementos que me deixou fascinado. Ou a forma que o disco foi estruturado… Eu não tenho ideia do que era, mas fui pego. Uma sensação de que algo artístico em mim tinha sido despertado, parecido com a época que joguei Kingdom Hearts quando era criança.

Foi um álbum que ajudou a mudar muito minha mentalidade da época, botou em evidência muitos preconceitos que eu tinha, e me ajudou a entender muita coisa… E então eu fui atrás de toda a discografia do Kanye, e o fato do Kanye amar Kanye por ser o Kanye, me ajudou a aprender amar a mim mesmo. Eu compararia a primeira vez ouvindo The College Dropout com minha primeira vez envolvendo outra coisa e assunto, mas essa não foi bela e sim traumática… A garota era legal no entanto, e foi engraçado e… Corta!

E então, lembro também de escutar Blonde, do Frank Ocean, até a exaustão quando saiu, e escuto até hoje. Meio que virou uma trilha sonora pra muitos momentos, estúpidos, belos ou tristes. As vezes caminho pela rua, e de repente Nikes começa a tocar em minha cabeça. Caminhar por ruas chuvosas, é melancólico ou romantismo exagerado, ou só burrice.

Frank era honesto naquele álbum, o ritmo lento com ideias sendo jogadas em um ritmo alto. Sem medo de expressar sua sexualidade, medos, insegurança, problemas com drogas, fé em Deus, contradições e tantas outras coisas. A voz alterava no meio da musica, a batida virava do nada. Era imersivo, cada dia que ouço esse álbum ainda descubro algo novo… É de uma densidade e intimidade tão profunda que não tenho palavras pra descrever. Te faz se sentir inseguro, depois seguro… acolhido e, talvez, até mais empático. Faz com que queira se libertar de qualquer rótulo ou amarra que te impeça de se expressar do jeito que é.

Eu não sei se muitas pessoas vão ler esse post, se vão entender o que falo. Talvez possam até achar uma porcaria e me detonar, faz parte. Talvez ele tenha um acesso fora do comum, ou que seja longo demais e as pessoas desistam de ler inteiro. Eu só sei que, usando essas inseguranças como base, posso seguir pelo caminho certo para terminá-lo, que é… se eu fico me questionando isso, o caminho certo é esse, pior seria se não escrevesse. Essa ”insegurança” me faz questionar tudo isso… Sendo guiado pelas minhas emoções…

Fazia quase um mês que não tocava nessa postagem, hoje, dia 04/05, eu estou em casa procurando algum lugar pra tomar uma cerveja e companhia pra isso. A nova faixa de Don L, Não Escute Meus Raps, está tocando sem parar no meu celular, e encontrei um fascínio por jogos da época de Play 2. Quando eu era mais novo tinha comprado Drakengard numa lojinha, por 10 reais, dirigido por Yoko Taro. Era um jogo de ação ambientado em um mundo medieval, bastante violento. Eu não entendia inglês na época muito bem, mas tinha um personagem que eu gostava muito que era uma espécie de monge… Curioso em revisitar a história desse jogo descubro que o personagem na verdade era um pedófilo, e o elenco de personagens que você joga são todos deploráveis de propósito… por algum motivo, minha apreciação pelo trabalho de Yoko Taro somente aumentou, e genuinamente tenho vontade de comprar o Nier Automata feito por ele devido a isso.

sPor que eu falei de Yoko Taro? Pois, quando descobri aquela informação sobre o personagem achei nojento e deplorável no nível pessoal, óbvio! Mas no nível artístico, subverteu minhas expectativas, fez eu ver a obra com outros olhos. Aquele nojo que senti foi uma reação extrema, e só com uma informação de um jogo que faz quase 10 anos a última vez que joguei, me fez sentir algo com uma obra que a muito tempo não sentia. Eu amo quando um disco, uma série, um jogo, um filme me fazem querer desligar a TV ou o computador de raiva. É estranho, mas realmente me inspira.

Quando foi a última vez que alguma obra fez com que você se sentisse assim? Talvez você tenha chorado assistindo Túmulo dos Vagalumes de Isao Takahata, e aquele filme te deixou tão traumatizado e mal que não quer ver nunca mais. Ou tenha assistido Moonlight e finalmente se sentiu confortável para assumir sua sexualidade. Até mesmo, quer saber, tenha visto o quarto filme dos Vingadores no cinema e chorado, após acompanhar esses personagens desde o começo depois de todos esses anos (só espero que não queira proibir crianças de entrar no cinema).

Talvez você tenha ouvido o álbum que equivale a primeira vez que ouvi The College Dropout e descobriu seu amor pelo hip-hop guardado ali, mas nunca percebeu. As pessoas me perguntam a razão de eu não fazer críticas sobre os discos na parte técnica, e a razão é simplesmente que… não quero. Tem pessoas que conseguem dissecar a produção, os flows, a lírica e métrica, pedaço por pedaço, bem melhores do que eu. Estou em busca de fazer algo diferente sempre.

Recentemente resolvi terminar de ouvir aquele disco de rock do Kid Cudi, Speedin Bullet 2 Heaven… e… ok, o disco não é bom, longe disso. Tecnicamente é um trabalho precário, mas vou condenar o homem por isso? Ele teve seu conceito, queria fazer algo diferente, arriscou e… Fracassou, mas ironicamente isso apenas aumentou meu respeito e admiração por Kid Cudi como um artista. Afinal, artistas são seres humanos, capazes de falhar, errar e tentar de novo. Após um álbum de retorno ao hip-hop muito bom, ele entregou uma obra prima com Kanye West chamada Kids See Ghosts. Alguém que chegou a um ponto baixo na vida pessoal e em sua carreira, ressurgiu anos depois de forma gloriosa. Talvez ele entregue alguns projetos que abaixem o nível no futuro, ou não, mas são pessoas como ele as quais lembro quando falam da palavra artista. Nenhum rótulo, apenas você mesmo se expressando e tentando novas ideias para o mundo ouvir.

É irônico eu falei para uma galera do RND que queria que esse texto fosse minha obra prima no site, tratando como uma obra artística e expressiva, mas, conforme vou escrevendo, essa ideia some da minha cabeça. Desde já começo a perceber as imperfeições nesse texto, as quais não pretendo corrigir nenhuma. O parágrafo anterior a esse escrevi três vezes, três versões diferentes, todas tentando passar a emoção que queria. Fracassei as duas primeiras pensando demais, a última acertei pois simplesmente deixei minha emoção guiar os pensamentos. O texto anterior a esse meu, sobre o Rico Dalasam, passei meses tentando escrever, todos fracassos, pois não tinha minha alma ali. Tinham dados, informações e opiniões, mas meu coração não estava lá. No fim das contas esse texto pode ser realmente minha obra prima, e relendo os outros parágrafos estou contente de emocionalmente estar conseguindo expressar tudo.

Em matérias anteriores, Rodrigo Zin, Nill, Faustino Beats, Rico Dalasam compartilharam minhas matérias sobre seus discos, leram e todos agradeceram e deram um feedback até emocionados. Alguns disseram que encontrei coisas no disco que nem eles tinham percebido, outros ficaram acolhidos pois o jogo com o qual fiz a analogia do filme era o seu favorito. É estranho, parece uma ligação espiritual no fim, como se conseguisse compreender mais ou menos o que cada um sente enquanto trabalha em suas obras. Talvez os artistas estão telepaticamente conectados conforme as eras, e no fim conseguimos nos comunicar até com Leonardo DaVinci.

Ok, viajei nessa última, mesmo assim o espírito disso vocês entenderam. Ou somos tipo X-Men: mutantes com habilidades diferentes. Alguns fazem filmes e séries, outros jogos, escrevem roteiros, tiram fotos, rimam e colocam em cima de uma batida a qual faz parte de uma cultura chamada hip-hop… Outros tem uma voz maravilhosa para cantar, tocam guitarra e montam uma banda de Metal. Podem falar sobre romance, amor, política ou até mesmo sobre o cu e mostrar como ele é belo. Ou podemos ser um misto disso tudo, e possuir mais de um poder. Eu diria que alguns cantam sertanejo universitário, mas sei lá o saco deve doer vestindo aquelas calças, e os caras só falam a mesma coisa. A Marília Mendonça é uma deusa, impossível negar.

Pra finalizar, ando fascinado com o jogo Bayonetta também, é tão lindo e bizarro, com bruxas que usam seus cabelos de roupa que também é onde lançam suas mágicas, armadas com pistolas, andando em prédios e… ok, é incrível, confiram, sério! Também tenho ouvido bastante Braille do Rico Dalasam, é uma música belíssima ao mesmo tempo que explícita, sensual e política… tem uma garota que eu acho muito bonita também, tipo bonita mesmo, e procuro sobre as performances artísticas do Shia LaBeouf. Comecei a criar e apreciar bem mais o kpop, não sei de que forma, mas me pego assistindo clipes aleatórios de madrugada. Por que estou enrolando pra concluir isso? Não sei. Alguns vão ler e pensar que menino pretensioso e egocêntrico, ou podem se identificar. Existe a chance de que não leiam até o final, o que também é esperado. Olha só, minhas emoções falando mais alto de novo com expectativas, reações e tantas outras coisas. Ok, se gostaram de ler até aqui amo vocês, se odiaram ok também. Espero que não censurem isso na revisão, só gostaria de terminar o texto parafraseando o rapper Raphael Warlock no seu último single: Vai se foder.

E tô afim de tomar uma cerveja agora e falar mal do governo, quem chama?