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Kodak Ninja & Urso em Mandarim mostram porque são a vanguarda do rap nacional no lançamento da mixtape ‘Smoking Prata’

Antes de mais nada, queria deixar claro que foi um privilégio ouvir a mixtape antes do seu lançamento, fazer essa audição foi um presente que Beli Remour e Fraj me deram, realmente esse foi o melhor trabalho que eles fizeram até o momento, desde a identidade visual, tudo foi bem pensado e trabalhado.

O grupo Kodak Ninja & Urso em Mandarim não nega em nenhum momento que são diferentes, porém ao mesmo tempo evidenciam o fato de serem diferenciados. O grupo sempre está envolvido em trabalhos conceituais, se tivesse que fazer uma rápida comparação a ponto de elucidação, seria comparar o grupo com um artista plastico, vanguardista, a frente do seu tempo.

Dentro do rap nacional, poucos artistas conseguem ser vistos como a frente do seu tempo, C4bal por alguns motivos foi um, porém se for analisar, não verá muitos nomes nessa lista. No caso do duo de Santa Catarina, eles fazem um trabalho tão a frente do seu tempo, que quem sabem só sejam entendidos em 2030. Isso não é uma piada, é sério, pois o trabalho deles, é algo bem sério, profissional e com extrema dedicação.

Podemos iniciar uma breve analise do porque de achar que Kodak Ninja é a vanguarda do rap nacional. E o primeiro ponto, por mais simples que seja é: Procure algo parecido dentro do rap brasileiro. O segundo ponto é a forma como os dois, Beli Remour e Fraj produzem música.

Enquanto o rap nacional como um todo é a Ambev, que produz as bebidas mais consumidas no país, Kodak Ninja & Urso em Mandarim segue sendo uma cervejaria caseira, feito no quintal de casa, feito de maneira artesanal, onde todos os insumos são verificados de verdade, um a um, onde todos os processos de fabricação são cuidadosamente verificados. Kodak Ninja & Urso em Mandarim é uma bebida de nicho, uma bebida premium.

Fraj (Kodak Ninja)

É necessário falar um pouco da forma como Fraj, em geral, faz suas rimas, o porque dele rimar do jeito que rima, porque buscar versos que com o uso do auto tune ganham uma suavidade, uma expressividade completamente diferente do padrão. Não é fácil entender Kodak Ninja & Urso em Mandarim, seria um erro e uma inverdade em dizer que é fácil. Obras primas sempre foram e sempre serão incompreendidas, talvez seja isso.

A mixtape “Smoking Prata” chega no “ano lirico”, chega na melhor década da história do rap nacional, chega em um momento de ebulição do próprio Beli e Fraj, que juntos formam essa explosão de ideias e principalmente batidas. Sim, precisamos falar sobre as batidas da Smoking Prata, talvez até mais do que falar das rimas.

Uma das melhores soundtracks que você pode querer ouvir enquanto faz qualquer coisa no seu dia, coloque os fones de ouvido, de preferência bons fones de ouvido e preste atenção na infinidade de ritmos, de baterias, de timbre distintos, em uma só track. Sim, em apenas uma faixa, o produtor Beli, conseguiu fazer uma mistureba, um emaranhado de sons e o resultado ficou bom na primeira faixa, na segunda, na terceira, na quarta, na quinta…

Beli Remour (Urso em Mandarim)

As instrumentais buscam representar o amor em cada batida, representar o amor em suas várias formas, em suas infinitas variações. Beli não trata o beat como inteiro, existem fragmentos da instrumental que está muito preenchido, cheio de coisas, quase como um gozo, um exemplo prático seria na parte final da música “Boceta Olímpica”, onde o beat está tão preenchido que os fones de ouvido preenchem completamente o seu ouvido e o som (agradável) te faz entrar de fato nessa boceta olímpica.

Seria compreensível a música acabar ali, mas não, de repente, do nada, entra uma chuva, barulho de chuva, a ponto de finalizar a mixtape, a ponto de você fazer uma comparação automática em sua cabeça entre chuva e aquele barulho estridente que estava em seu ouvido até poucos segundos atrás. Beli procurou fazer algo novo em cada momento da mixtape, sim, temos que analisar momentos e não faixas.

Não posso deixar de mencionar a minha faixa favorita que foi a faixa 3. Sim, a faixa 3 conseguiu me pegar nos seus primeiros cinco segundos, e confesso que ao mesmo tempo que eu não esperava muita coisa daquela track, ela seguia me agradando, confuso? Deixe-me explicar. A música tinha tudo pra ser uma distorção sem fim de Kanye West até a primeira bateria entrar, quando entrou, tudo mudou.

A mixtape chega após uma série de lançamentos neste ano de 2017, entre singles, demos e experimentos, setembro, momento do maior lançamento do grupo, “Smoking Prata: Desviando das Poças Sem Fugir da Chuva (Parte 1)”. Sim, esse é o nome completo da Mixtape, podemos esperar uma parte 2? Pelo próprio nome da Mixtape, sim, mas pelo conceito que o grupo sempre busca trazer, não.

Kodak Ninja & Urso em Mandarim se mostra um grupo não linear, não segue padrões, lançar uma segunda parte seria um padrão, talvez seja uma viagem, porém talvez seja ideal parar no time que está ganhando, parar na Parte 1.

Essa mixtape foi um projeto bem trabalhado pelo grupo, um projeto extremamente bem trabalhado, feito e programado com antecedência, diferente de muitos trabalhos que tem por aí, diferente do que o próprio próprio Kodak Ninja & Urso em Mandarim fazem, que é lançar trabalhos na calada da noite, de forma abrupta, pegando todos de surpresa.

Smoking Prata é um trabalho sobre amor, porém, longe de ser sobre um romantismo barato, longe de ser uma esperança ou sobre milagres, cobranças ou culpa. É uma tentativa de retratar um amor entregue, um amor possível, real, diário. É sobre um amor que se faz no dia-a-dia, nos detalhes, nas frases soltas, é mais sobre Eros (Deus do amor), sobre venerar, contemplar, como se fosse um ritual, uma religiosidade por trás.

É quando tudo ao redor, fosse muito opaco, tivesse chovendo, porém mesmo assim a pessoa pudesse desviar das poças, além de conseguir se olhar através da própria poça. Smoking Prata é sobre amor.

Com toda certeza é um trabalho que está entre os melhores do ano, por mais que tenha poucas faixas, é um trabalho grandioso, contendo música de 12 minutos, poucas pessoas fazem uma música de 12 minutos e quem faz, em geral, não faz com a maestria que foi feita na Smoking Prata