Connect with us

Hi, what are you looking for?

Old

Uma referência esquecida numa quebrada em Cachoeira, Recôncavo da Bahia

O rap tem mais uma parte de sua história sendo feita no Recôncavo baiano, são conteúdos urgentes que ecoam nas músicas, é o idioma do pixo grafitado nas esquinas dos casarios coloniais.

Saca só a onda do Bonde que vem chegando aí pra fortalecer a Banca! É pra geral se ligar na vibe da situação, Rap Recôncavo [075]: Us Pior da Turma; Az Piveta das Área; Jahsco M2; Quadra Sul; Cabeça de Radiola; Mano Link, Ras Elias e muito + … Então, lá vai!, desde os ancestrais entre as cidadelas coloniais, mais algumas granadas ! ! !

Aqui o som se fortalece, a arte se embebe de ares de ancestralidade e tecnologias políticas colocam em jogo forças antes indômitas ou adormecidas. Os ancestrais querem justiça e a farão com as nossas ou com suas próprias mãos.

Foi no dia da festa do caboclo Guarany de Oxóssi, no Rosarinho, que fui apresentado a este trabalho que vem por aí. Por um dos ogãs do terreiro. Um ogã de Xangô. Um trabalho que vem pedindo justiça e denunciando a ameaça contra a vida negra, através de uma sonoridade meio-rádio-meio-rap anos 90, uma forma acelerada de rima arriscada e um beat certeiro e arranjos orgânicos.

O rap tem mais uma parte de sua história sendo feita no Recôncavo baiano, são conteúdos urgentes que ecoam nas músicas, é o idioma do pixo grafitado nas esquinas dos casarios coloniais. Tá ligado, leitor? Tá aí não só um adianto, mas um pouco além da arte apresentada na primeira microtape “As Margens do Fim do Mundo” (Us Pior da Turma, Cachoeira-Ba), lançada mês passado.

Então, vai aí um comentário, um olhar pra geral, lá vem mais uma cartada do gueto, esse território recôncavo, sua vez é essa, piva. Agora, a trava do coldre se abriu. Do reggae (sound system) ao rap (Hip-Hop). Eu tive a oportunidade de escutar os 20 minutos e fico pensando nas outras que ainda vão chegar junto com o “Tomo I”. Faya ! ! !

Na Baía de Todos os Santos não poderia ser diferente, onde a população diaspórica afro-atlântica aportou, e acolhida pela terra e pelos índios começou a empreender seus projetos de libertação e luta contra a escravidão e em seguida contra o racismo, o preconceito e a discriminação. Sejam os movimentos da Irmandade da Boa Morte para a compra da liberdade de nagôs escravizados ou, sejam, em atitudes mais recentes como as atuais formas de luta contra a estruturação do racismo e da hierarquia racial representada pela configuração política institucional que pode ser definida como supremacia branca, empoderada financeira e politicamente pelo sistema capitalista ocidental.

Assim, que ainda sobre os efeitos dos assassinatos perpetrados na chacina do Cabula, a mando do Governador Rui “Corta”, no ano passado, o movimento de luta contra o genocídio do povo negro, articulação reunida em torno da campanha “Reaja ou Será Morto, Reaja ou Será Morta”, por meio do envolvimento de atores ligados aos seus quadros de militância lançou a “Coletânea Reaja vol.1”, na qual a “Us Kamisa Preta”, assinada por Aganju (Us Pior da Turma), é a segunda faixa. Essa trap de peso traz uma linha de rimas que derivam da adrenalina do combate narrado no qual: “Pra bater de frente com os bota preta / Us Kamisa preta! Us Kamisa preta!”. A alegoria das botas com a estrutura e o aparto policial não é mera imagem poética é de fato o pisão do Estado tremendo obstáculo na sobrevivência da juventude negra nas periferias baianas.

Ao continuar, lado a lado à narrativa que contextualiza descrevendo, ao passo que segue procurando o sentido desta curva de ascendência do rap no recôncavo da Bahia, a cena que se apresenta e impressiona pelo volume de grupos e artistas ao mesmo tempo em que a densidade dos dados disponíveis é de imensa e profunda análise.

Jahsco M2, Cabeça de Radiola (Mano Link/Ras Elias), Quadra Sul, Conceito Articulado, Az Piveta das Área (Mc Taina e Mc Jayne) entre outros compõem um cenário bem mais amplo e que em intersecções com os movimentos entre o rap local e o nacional que expandem a compreensão de não só pela forma, como também numa espécie de articulação regional em que cidades como Cruz das Almas, Santo Antônio de Jesus, Muritiba e Cachoeira se põem numa relação intensa entre a periferia e vida negra que faz brotar imagens de resistência e continuidades para ciclos e sequências da e para a vida de muitos jovens no interior da Bahia.

Ou seja, além de DDH, Mobb, Baco, Nadier, o rap da Bahia, transcende a capital Salvador e pede passagem com essa chegada da Microtape “Nas Margens do Fim Mundo” assinado pelo coletivo Us pior da Turma.

“A micro-tape – As Margens do Fim do Mundo – tomo i, ii, iii – é a primeira produção do Studio Home Ibori (Cachoeira-BA), que chega no circuito underground de produção com uma trilogia fonográfica. Dividida em três tomos, como em um livro. O grupo de rap Quadra Sul foi convidado para assinar algumas participações no primeiro tomo da trilogia. Também há uma track bônus que é assinada por uma cria de Cachoeira: Rapysaico“.

“O Tomo I”, chega depois do lançamento do single “Castelo”, assinado por Aganju (Us Pior da Turma), apresentado em um clip gravado na Ponte D. Pedro II, entre as cidades de São Félix e Cachoeira. Agora “Us Pior da Turma”, se apresentam como esta arma engatilhada de um arsenal étnico contra o genocídio da população negra.

Num regime de atuação e atenção em função de uma articulação pelos bairros de Cachoeira, como na realização de um projeto de cineclubismo batizado de “Cine do Povo”, a ocorrer de modo itinerante pelos bairros do Viradouro, Rosarinho e Rua da Feira, na cidade cachoeirana, além de que ainda é possível ressaltar a ligação de membros d’Us Pior da Turma com a religião de matriz africana do candomblé que, enfim, é o que resume nas palavras de um dos membros do grupo, ao dizer que, de fato, o grupo: “é um movimento comunitário sobretudo”.

Logo quem quiser colar e saber mais pode chegar junto mesmo. Já já tem outros dois clipes chegando na área. Sem esquecer também de procurar saber sobre o movimento do “Reaja” e os “Bailes pelo Certo”, que ocorrem no “Scombros 777”. Pois é, só até aqui já dá um textão. Fica além de um cartão de visitas e uma digna apresentação do Ibori Studio Home, cumprimos a missão de anunciar que ainda vem por aí mais duas outras tapes nesta chegada do grupo na cena do “Rap Ba”.