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Entrevista: Brisa Flow, o rap e o posicionamento das mulheres no movimento

Mineira, mãe, nascida e criada na cidade de Sabará, filha de chilenos, Brisa Flow viveu sua adolescência em Minas Gerais e em 2012 foi para São Paulo em busca dos seus sonhos.

Neste mês de março, em homenagem às mulheres, iremos soltar uma série de entrevistas com as minas do Hip-Hop. A proposta é dar mais visibilidade e voz às mulheres que estão correndo pelo certo no movimento. Já conversamos com Drik Barbosa, Yzalú, e hoje você lê nosso papo com Brisa Flow.

Mineira, mãe, nascida e criada na cidade de Sabará, filha de chilenos e honra suas raízes como poucos, Brisa Flow viveu sua adolescência em Minas Gerais e em 2012 foi para São Paulo em busca dos seus sonhos.

[Leia também: Yzalú, o rap no violão
e suas referencias em outros estilos
]

Em outubro de 2015 lançou seu primeiro single oficial, “As de Cem’’, com produção de Johny Martinez e com direção musical de Diamantee (Chocolate Estúdio). O single faz parte do seu novo disco “Newen – Força em Mapuche” — “Mapuche’s” são um povo indígena da região centro-sul do Chile e do sudoeste da Argentina.

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No seu mais recente trabalho, Brisa deixa bem claro o que deseja passar com a sua música. Expõe seus sonhos, sua trajetória e explora sobre uma nova fase de vida. Sobre seu amadurecimento como mulher, como mãe, e um novo momento, onde voltou com força para mostrar a sua representatividade no Rap nacional.

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Brisa tem uma visão bem direta, crítica e costuma expressar nas suas músicas a insatisfação em relação as mulheres na sociedade de hoje. A desigualdade e o machismo são um ponto forte em suas rimas, e uma coisa é certa: “o jogo ainda não virou mas vai virar”.

O Rap feminino tem mostrado sua força, e dessa vez, a  gente teve o imenso prazer de trocar uma ideia com Brisa De La Cordillera a.k.a Brisa Flow sobre inspirações, feminismo e o posicionamento das mulheres no movimento.

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RND: O Rap sempre foi um movimento dominado por homens, e nos dias de hoje isso ainda é bastante visível, mas a mulheres tem se unido e ganhado espaço e visibilidade. Negra Li, Flora Matos, Karol Conka tem uma repercussão nacional equivalente a qualquer rapper homem. Como você enxerga o espaço das mulheres na cena do rap nacional hoje?

BRISA: O espaço ainda é dominado por homens. Todas mulheres que você citou trabalharam sério pra estar onde estão e não penso que tiveram as mesmas oportunidades que os caras. Todas grandes cantoras, seja do rap ou não, passaram por machismo e tiveram que criar seu espaço. A gente sempre tem que ser muito melhor pra que deixem a gente ter um espaço pra mostrar o trampo.

Só que hoje não aceitamos mais migalhas e muitos caras estão desconstruindo o machismo e entendendo que se amamos a cultura hip hop e vivemos e fazemos música também e que podemos ocupar o mesmo espaço e nos fortalecer. Tem muita mina que fez história dentro da cultura e ninguém conhece. Estamos trabalhando pra que nosso futuro seja diferente. Representatividade importa sim. Gratidão a todas essas mulheres que nos representam bem. As minas do Brasil são foda, muito!

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RND: O que o Rap é para você e porque não outro estilo de música?

Brisa: Rap é ritmo e poesia, rap é tráfico de informação. Rap pq? pq foi a música que veio da cultura hip hop. Música pq? Pq é que faz meu coração bater. E a cultura hip hop pq entrou na minha vida robou a cena, me deu força e só colocou idéia quente na minha mente numa época que eu andava bem perdidona. E a poesia pq ela me ajuda continuar respirando rsrs.

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RND: Muitas rappers tem feito músicas com letras fortes, com a finalidade de quebrar estereótipos, paradigmas sociais, combater o machismo e atuar diretamente no movimento de empoderamento feminino. Qual a tua relação com o feminismo?

BRISA: Feminismo é libertador. Minha relação com o feminismo é diária, expansão da mente. Eu já tinha ideias feministas, só nao sabia que eram. E não tinha troca com as minas. Hoje poder falar das coisas e ouvir é muito foda e nos empodera cada vez mais. Como é bom andar juntas.

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RND:  Grandes mulheres da história com: Maria Bonita, Frida Kahlo  tem bastante representatividade na luta do posicionamento e do fortalecimento social das mulheres.  Você se inspira em quem ou o que para escrever suas letras e  lutar pelos teus direitos?

BRISA: Eu acho a Frida fantástica, pena que o Diego era um babaca. Infelizmente tem muito babaca rodeando mulheres incríveis. Muitas mulheres me inspiram, seja no que fizeram, em sua arte, atitude, composições e vida em interpretações. Fui criada ouvindo a Violeta Parra então acho a influência forte, me lembra muitas coisas de menina que me acompanharam. Me inspiro  na comandanta Ramona, na Bartolina Sisa, cantoras como a Nina Simone, Ella Fitzgerard, Billie Holiday, Mercedes Sosa, SADE!!!! Minha mãe, minha avó, e minha bisavó mapuche de Villa Rica a mais inspiradora de todas.

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RND: O Hip Hop é um movimento de resistência, de luta diária.  Como é ser mulher, Rapper , e poder se expressar em meio a uma sociedade machista? Você acha que através das tuas letras consegue inspirar outras mulheres a lutarem pelos seus direitos?

BRISA: Ser mulher é foda, seja no rap ou não. No Rap tem suas particularidades machistas sim todo mundo ta ligado, vamo falar a verdade?  O lance é não se calar, mas ainda sofremos muita represália quando botamos a cara por uma parada séria que rola. Acho o silêncio e a invisibilidade muito cruel. Empoderar outras minas com o som é uma responsa que a gente tem, com a música, com a idéia. Cada um tem sua forma de fazer arte. Eu acho que arte só é arte se provoca algo. Eu fui provocada por diversas artistas e isso me ajudou a refletir e amadurecer idéias, abrir a mente mesmo. Eu deixo que a música fale com as meninas e como o machismo é uma coisa real e presente na vida de TODAS a identificação é muito fácil e consequentemente a reflexão também.

Sei que a música fala com os caras também, fico feliz pq muitos dizem que curtem o som e que param pra refletir, essa é a vibe. Ensinaram os caras a serem babacas, entendemos isso. Mas continuar sendo ou não é uma opção. E nós não somos obrigadas a nada, nem mesmo a ensinar ou desconstruir. Isso tem que vir da pessoa. Infelizmente muitos se fazem de bobo e preferem continuar na posição que estão, pq é mais cômodo.

Admiro quem quer se despir desse machismo e se joga pra ouvir e entender o ser humano como pessoa e trata-lo com respeito. Afinal é isso que queremos, ser tratadas como seres humanos, não como carne, não como serva, não como objeto. E que respeitem nosso trabalho. Respeita as mina é uma frase muito curta e simples, resume tudo. Respeita nois. Ponto.

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Recado de Brisa sobre o mês da mulher:

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”…Não quis responder nada esse ano sempre perto do dia oito porque acho que as coisas vão muito além da data e precisamos desconstruir isso, urgente”.

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